quinta-feira, 14 de outubro de 2010

BOB MARLEY: No Woman, No Cry



«No woman no cry is a prophetic song about Africa... The
woman is the African continent. Bob is asking her not to
cry even in the midst of injustices against her. He reminds
her of her inhabitants and how they lived and shared food
in times past, how they traveled on foot. she is a woman
in the sense that she is mature with children all over the
world and a darling in sense of being the most wanted and
scrambled for by the Babylon system, she is a sister of other
continents...  he sings hope to her by telling her everything
will be alright. the names of towns he mentions are figurative
for villages in Africa.» – Frederick , Nairobi, Kenya

«And the song is not for Rita it is about Jamaica and their
struggles.» – Jose Arias, Buenos Aires, Argentina

«He wrote 'No Woman, No Cry' in 1974. The song is about
soothing a grieving widow. Remebering old friends and good
(as well as bad) times. 'In this bright future (….) your tears'
-- no matter what happens you will never forget me. 'My feet
is my only carriage (…) everything is going to be alright'. He
was diagnosed with melanoma in 1977 -- it started in his right
great toe, refusing treatment until 1981 under Dr. Joseph Issel
(former Nazi SS) as a last ditch effort. He refused treatment
because it would interfere with his dancing and music (…).
Incredible song by an admirable man, and one of the greatest
songwriters of our time.» – geanco, kansas city, MO
                                   – in Songfacts

É admirável como uma simples canção de amor dá origem às mais diversas interpretações, em que se descobrem metáforas de todo o tipo, o que apenas serve para enriquecer a universalidade lírica do jamaicano Robert Nesta Marley.

A verdade é que como Bob Marley nunca se pronunciou publicamente sobre ela, a versão mais credível é a sugerida pela sua mulher, Rita, no livro que escreveu sobre a sua vida a seu lado:

«O Bob sempre escreveu acerca de coisas reais (…). O
resto dessa canção também aconteceu ser verdade.»(1)

A canção era dedicada a Rita e nela, ele assegurava-lhe que com tão longo caminho percorrido por ambos, a hipótese de a abandonar nunca lhe terá passado pela cabeça.

«Quando começámos a namorar, ele apresentou-me o seu
amigo Georgie.  (...) Ele muitas vezes trazia-me quiabos
ou algumas couves ou laranjas do seu amigo Vincent Ford
(conhecido por Tata).  Foi na cozinha do Tata que Bob
acabou por ficar a viver (...), sem surpresa alguma, foi na
cozinha do Tata que Bob e eu fizémos amor pela primeira
vez.  O seu amigo Bragga trazia-me leite de vaca fresco
pela manhã, sempre com um alegre "Everything aright?"
(...) Quanto a Georgie, que na canção "would make the fire
light", ele ainda anda por aí e continua meu amigo. Tenho
vívidas lembranças dos tempos em que Georgie realmente
acendia o fogo, e era verdade que ele queimava "through the
night”. (...) Eles tocavam guitarra e todos nós cantávamos
e bebíamos sopa de papas de milho ou partilhávamos o que
tinha sido cozinhado para esse dia.»(1)

Mas para quem conhece a mensagem lírica de Marley, presente nas letras de muitas das suas canções, é mais do que tentador descobrir mensagens secretas em “tiradas filosóficas” como «in this great future, you can’t forget your past» ou «my feet is my only carriage so I’ve got to push on through».


No Fiji Times, um escriba de serviço descobriu que o título tinha origens ancestrais, do tempo em que as mulheres negras eram enviadas pelos familiares para as montanhas, o chamado território maroon, para não serem violadas pelos brancos.

Outra “discussão” que se vem mantendo ao longo dos anos é a relacionada com o seu título e o seu significado: No Woman, No Cry, em que muitos descobrem variados sentidos (“não tendo mulher, não se chora” ou “não tendo mulher, não é preciso chorar”) que o conteúdo da letra não corrobora.  No patois local, “nuh” significa “don’t” pelo que o título deve ser lido “Não, mulher, não chores”.
 
Bob e Rita Marley, no início

Quando em finais de 1972, Chris Blackwell, um jamaicano há muito ligado à música daquela ilha, se vê abandonado por Jimmy Cliff, alguém sugere-lhe que ouça os Wailers que na altura se encontravam a actuar em Londres.  Do primeiro encontro, fica a lenda de Chris ter dado 4 mil libras a Marley para que se esquecessem da ideia de conquistarem o mercado R’n’B dos EUA, e regressarem antes à Jamaica para gravar músicas para a Island Records, a etiqueta de Blackwell.  Meses depois, é um Chris Blackwell surpreendido que é convidado para ouvir as primeiras músicas compostas pelo grupo.  Entre ele e Bob Marley, nasceria uma ligação profunda que se estenderia nos bons e maus momentos.

 Chris Blackwell

Por razões que desconheço mas que julgo prenderem-se com o sucesso repentino do grupo, os Wailers separaram-se, tendo Peter Tosh e Bunny Livingstone (que mais tarde, adopta o nome artístico de Bunny Wailer) prosseguido, com sortes diferentes, carreiras a solo.  Marley mantém os restantes membros do grupo sob o nome de Bob Marley & The Wailers, e adiciona um grupo vocal feminino, a quem dá o nome de I-Threes.

as I-Threes

Durante quase todo o ano de 1974, Marley dedica-se à composição e arranjo daquele que será o seu primeiro trabalho sem a influência de Tosh e Livingstone: Natty Dread!  Sem grandes compromissos, para além da já habitual cedência à mistura “europeia” entregue a Blackwell, Marley desenvolve um verdadeiro álbum rasta, misturando na perfeição, religião com revolução.  Aclamado pela crítica musical e pelo público, o LP marcaria o início da sua grande carreira.  Um dos grandes guitarristas de jazz, Charlie Hunter, em 1997, reproduzi-lo-á integralmente num álbum com o mesmo título.  Uma das particularidades do álbum é a de que os créditos de autoria, na sua maioria (seis das nove músicas) terem sido atribuídos, por razões misteriosas, a membros dos Wailers/I-Threes e a amigos, embora todas as músicas tenham sido compostas por ele – No Woman, No Cry viria a ser atribuída ao seu velho amigo “Tata” (Vincent Ford).

Vincent Ford, “Tata

No Verão de 1975, Bob Marley e os restantes membros da banda, partem em digressão e em Julho estão em Londres, aonde a 18 e 19, no Lyceum Ballroom, gravam o álbum que sairá no fim desse ano: Live!  A versão mais conhecida de No Woman, No Cry será sempre a extraída desses concertos que ainda hoje são recordados como um dos momentos altos da década, em termos de concertos.

Live! (1975)

Quando, em Novembro, o grupo regressa à Jamaica para participar num concerto de beneficência, ao lado de Stevie Wonder, eles são recebidos pelos jamaicanos como os reis do reggae.

O grupo:
   Bob Marley – vocalista, guitarra ritmo
Os The Wailers:
   Al Anderson – guitarra líder
   Tyrone Downie – teclados
   Aston "Family Man" Barrett – baixo
   Carlton Barrett – bateria
   Alvin "Seeco" Patterson – percussão
E nos coros:
   I Threes (Rita Marley, Judy Mowatt e Marcia Griffiths)

No Woman, No Cry
Lyceum Ballroom
LondreS
18~19 de Julho de 1975 
No, woman, nuh cry
   No, woman, nuh cry
No, woman, nuh cry
   No, woman, nuh cry

Said... said..
   Said, I remember when we used to sit
      In the government yard in Trenchtown
um "government yard in Trenchtown"
Oba-obaserving the ypocrites
   As they would...  mingle with the good people we meet
Good friends we have, oh, good friends we’ve lost
os Wailers no início
   Along the way...       eh-a
In this great future, you can’t forget your past
   So dry your tears, I seh... and

No, woman, nuh cry
   No, woman, nuh cry
Ere, little darlin’, don’t shed no tears
   No, woman, nuh cry

Said… Said…
   Said, I remember when we used to sit
      In the government yard in Trenchtown
And then Georgie would make the fire lights
   As it was logwood burnin’ through the night
Then we would cook cornmeal porridge
o famoso "cornmeal porridge"
   Of which I’ll share with you… uuh
My feet is my only carriage
   So I’ve got to push on through
But while I’m gone,
Bob Marley nos EUA
I mean

Everythings gonna be all right   now
   Everythings gonna be all right   now
      Everythings gonna be all right   now
         Everythings gonna be all right   now
I seh…
Everythings gonna be all right   now
      Everythings gonna be all right   now
               Everythings gonna be all right   now
                    Everythings gonna be all right

So, woman, nuh cry
   No no, woman,
      No, woman, nuh cry
Woman, little sister, don’t shed no tears
   No, woman, nuh cry

I remember when we used to sit
   In the government yard in Trenchtown
mais um "government yard in Trenchtown"
And then Georgie would make the fire lights
   As it was logwood burnin’ through the night
Then we would cook cornmeal porridge
Bob Marley 
   Of which I’ll share with you…
My feet is my only carriage
   So I’ve got to push on through
But while I’m gone

No, woman, nuh cry
   No, woman, nuh cry
Woman, little darlin’
seh   don’t shed no tears
   No, woman, nuh cry... eh
Little darlin’, don’t shed no tears
   No, woman, nuh cry
Little sister, don’t shed no tears
   No, woman, nuh cry

 Bob Marley
(Fevereiro 6, 1945 – Maio 11, 1981)


Rita Marley


-----------------------
(1) MARLEY, Rita. No Woman No Cry: My Life with Bob Marley”. pp.32/33

Sem comentários:

Enviar um comentário