sexta-feira, 1 de abril de 2011

MC5 ~ A Revolução em Detroit (Parte 2)


Back In The USA 


Em meados de Junho, o grupo inicia os ensaios para o novo álbum nos GM Studios, em Detroit, sob a direcção musical de John Landau.  Este, a pedido de Fields, tinha sido contratado pela Elektra Records para produzir o novo trabalho do grupo, mas no momento em que a etiqueta cortou com os MC5, ambos optaram por os seguir.  Antes do dia marcado para o início do julgamento de Sinclair (a 21 de Julho), o grupo tem uma reunião aonde tentam criar um novo relacionamento contratual entre todos os envolvidos.  Sinclair reage mal às propostas do grupo, vocalizadas por Landau, mas acaba por as aceitar e, na prática, o grupo separa-se do projecto político do seu mentor.

No início de Outubro, a gravação do álbum tendo como engenheiro Jim Bruzzese, está concluída, e poucos dias depois, a 15, é lançado um single de promoção do mesmo, com Tonight/ Looking At You (este último tema gravado pela terceira vez).

Entretanto, a partir da prisão estadual de Jackson, Sinclair começa a enviar uma série de cartas para a Creem, Village Voice, e Rolling Stone, a atacar o grupo...

«Para que fique registado, o MC5 já não está li-
gado de qualquer forma à Trans-Love Energies
ou ao White Panther Party, nem a mim pessoal-
mente. Os seus objectivos e desejos agora, são ser
um sucesso no negócio das estrelas pop, e eu es-
pero que eles consigam isso. Give Peace a Chan-
ce e tudo isso, percebem-me. E como disse à mi-
nha esposa, Magdalene, quando ela me pergun-
tou sobre como lidar com a situação financeira
vis a vis MC5, desde que não querem ter nada
mais a ver connosco, nós nunca dependemos do
apoio de reaccionários de qualquer espécie.» –
John Sinclair(12)

Os MC5 em 1969

«Escrevi-lhe esta longa carta pessoal. Eu sentia-
-me realmente mal com tudo o que tinha aconte-
cido, sabes, escrevi-lhe para explicar um pouco
os meus sentimentos, e tínhamos de fazer alguns
tipos de arranjos para o futuro. Porque os nossos
piores receios tinham-se concretizado e tínhamos
de lidar com isso. Eu disse-lhe o que pensava que
devíamos fazer e ele respondeu-me com um dis-
curso retórico, um mero discurso paranóico... Ele
disse: ‘Vocês queriam ser maiores do que os Bea-
tles, e eu queria que vocês fossem maiores do que
o Presidente Mao.’ Eu tentava falar-lhe acerca de
algumas merdas importantes, sabes, e foi isso que
recebi de volta.» – Wayne Kramer(13)

A 15 de Janeiro de 1970, Back In The USA, o novo trabalho dos MC5 é posto à venda.  Na capa, uma foto do grupo, completamente suados, tirada por Stephen Paley, que se encarregaria da direcção artística do resto do invólucro.  No geral, o álbum é bem recebido pela crítica musical salientando nele, em especial, duas coisas: o seu som limpo e o que, como quem não quer dizer nada, aquilo que Ben Edmonds, escrevendo na Fusion, descreveu como «uma fantasia maravilhosa para alguém suficientemente quixotesco para aceitar cegamente a moda. Mas, como deveria ser com todas as fantasias, esta percorreu o seu percurso»(14), referindo-se naturalmente ao fim da ligação a Sinclair por parte do grupo, e enaltecendo o trabalho de “limpeza” de Landau.

«Mas eis Jon Landau, que é um intelectual, cer-
to não? Ele é o típico intelectual liberal brilhan-
te, que costumava ser um jornalista da Rolling
Stone, etc etc, bom escritor, amava o R&B, ama-
va a Motown, amava o rock and roll. Mas ele nun-
ca tinha produzido nada antes. (...) Assim aquele
álbum saiu sem tomates, soando fraco e estéril, e
rápido demais. Basicamente da nossa resposta a
Landau, e da sua falta de experiência naquele tem-
po – foi por isso que aquela música saiu daquele
modo...» – Dennis Thompson(15)

Na minha opinião trata-se de um álbum sensaborão e pelo que posteriormente li, não creio que a culpa tenha sido do grupo.  Kick Out The Jams pode ser um álbum medíocre, cheio de erros de produção, mas tem vida e alegria, ele ao menos reproduz a energia do grupo.  Back In The USA não tem nada; Landau ao querer reduzir o som do grupo a uma mera reprodução das primitivas gravações de rock ‘n’ roll da década anterior, transformou-o em algo morto, frio, e depois, até é muito mais “político” do que o anterior, com as suas referências ao pesadelo de ser chamado para o Vietname em Tonight (Well, tuesday got the letter/ The army thinks I better/ Get myself down there right away), à revolução sexual em Teenage Lust (Back in Lincoln Park where I was mostly raised/ Hanging around town where I got totally crazed/ Surrounded by bitches who wouldn’t give it in/ Who thought that getting down was an unnatural sin/ I’d whisper, baby, baby help me, you really must/ I need a healthy outlet... for my teenage lust), à revolta adolescente em High School (The kids know what the deal is/ They’re getting farther out everyday/ We’re gonna be takin’ over/ You better get out of the way) e a sua relação com o rock em Call Me Animal (I use the juju of my ancestors/ To drive this piece of meat/ I scream the music of the pleistocene/ Just because it’s got a good beat, hey, hey).  Palavras como as que aparecem em The American Ruse (The way they pull you over it’s suspicious/ Yeah, for something that just ain’t your fault/ If you complain they’re gonna get vicious/ Kick in the teeth and charge you with assault/ Yeah, but I can see the chickens coming home to roost/ Young people everywhere are gonna cook their goose/ Lots of kids are working to get rid of these blues/ Cause everybody’s sick of the American ruse) ou em The Human Being Lawnmower (Can you hear me? / Hope you can/ Listen here closely you’ll understand/ There’s an ancient race of killer apes/ They used a thigh bone... They’ll try and force you to help them/ Do what they, do what they do/ So they’ll hunt and they’ll hound you/ Chase and surround you/ Till your standing before/ The human being lawnmower) não encontram paralelo nas do álbum anterior, e mesmo a escolha do título a partir do tema de Chuck Berry, Back In The USA, não é assim tão inocente como possa parecer, pelo menos para quem conheça a história em torno do que a fez nascer, i.e., de ter resultado do facto de Berry ter tomado conhecimento, durante a sua primeira digressão pela Austrália, em 1958, que os aborígenes nem direito à cidadania do seu país tinham.  Mas a forte carga política do álbum não é de estranhar se tivermos em conta que a maioria do seu reportório vinha do tempo em que o grupo ainda estava ligado a Sinclair, conforme explica Thompson: «(...) talvez três quartos do material que foi publicado em Back In the USA, mas feito à maneira antiga dos MC5, antes da chegada de Jon Landau e de ele  nos ter limpo. O sr. homem Titanic em pessoa.»(15)

Em termos de vendas, o álbum tornar-se-ia num verdadeiro fracasso, muito longe de conseguir o relativo sucesso do anterior, o que era o mínimo esperado pela Atlantic Records.  Para o que aconteceu, várias explicações têm surgido ao longo dos anos, eu limito-me a aceitar a mais simples delas: ele não tem a força do primeiro álbum, aquele sentido de urgência, de ansiedade... a verdade é que, se o grupo era muito popular na área da Motor City, no resto dos EUA, quer fosse por causa da sua posição militante, quer fosse pelo seu som violento e pesado, num período em que reinava o zen psicadélico e, logo imediatamente depois dele, o “regresso às raízes” do folk acústico, o grupo não era muito popular («Sempre houve conflitos entre a nossa onda e a onda da costa oeste.» – Wayne Kramer(16)), e ao cortarem com Sinclair acabariam por alienar parte dessa ligação a Detroit – a atitude do grupo suou então, como um verdadeiro acto de traição não só porque pareceu um abandono do seu mentor quando ele se encontrava involuntariamente isolado numa cadeia do “inimigo” mas também porque o seu encarceramento era apenas a face mais notória da repressão porque passava então a contra-cultura local, e que arrastava os seus elementos para posições cada vez mais radicais.

Do álbum viria ainda a ser extraído um outro single, The American Ruse/ Shakin’ Street, que seria publicado no dia 13 de Março.

«O álbum dos MC5, na sua grande parte, conti-
nua a ser uma ideia, porque no fim soa como um
arranjo.  “Teenage Lust”, e “American Ruse”, e
“Human Being Lawnmower” sobressaem, e eles
pertencem a singles, e às tabelas. Trepando todo
o caminho das tabelas.» – Greil Marcus(17)

«Back In The USA parece que foi tocado em fios
de alta tensão, como se a clave dos agudos tivesse
imposto ditadura sobre os graves. Isso é basica-
mente o resultado de um acidente de produção:
Landau queria a equalização mais quente que o
engenheiro Jim Bruzzese lhe pudesse dar, e ele
continuou puxando por ele até que acabou por
ficar com um som que era, por vezes (especial-
mente em “Tutti-Frutti” e “Back In The USA”),
praticamente sem fundo.» – Dave Marsh(18)


High Time


Em Julho, partem para a Inglaterra aonde tinham agendado quatro concertos, e aonde acabam por dar mais um, cuja receita reverteu a favor do jornal underground inglês International Times.  Ainda por lá, acabam por gravar um tema para o seu novo álbum, Sister Anne, em dois diferentes estúdios londrinos, nos Landsdowne Studios, tendo como engenheiro Ashley Howe, e nos Pye Studios, com o engenheiro Larry Bartlett.  Para ambas as sessões contaram com a presença de um engenheiro ligado à sua editora, Geoff Haslam, que tinha como missão ajudar na produção do disco. No dia 5 de Agosto, participam no Festival Maudit de Biot, no sudeste de França, e regressam depois a casa.

«(...)  Mas as coisas estavam tão mal na América,
sabes, poucos concertos, que começámos a procu-
rar uma razão para sair.» – Fred Smith(19)

Programa do Marquee Club,
no MelodyMaker, 1970

«Na sua recente viagem à Inglaterra, eles conse-
guiram salas lotadas. Uma quantidade fenomenal
de zunzuns precederam-nos, e a maioria diziam
respeito a Revolução.» – Chris Hodenfield(20)

Em Setembro, retomam a gravação do LP nos Artie Fields Studios, de Detroit, que se prolonga até ao mês seguinte.  Nos dias 8 e 9 de Novembro, ainda utilizam os Head Sound Studios, nas vizinhanças de Ann Arbor, em Ypsilanti, para gravarem Head Sounds mas o tema não virá a ser incluído no álbum.

A 6 de Julho de 1971, High Time é posto à venda.

«Sem pressão mas muito para provar, talvez
mais do que tudo a si próprios, os MC5 res-
ponderam com o melhor álbum da sua car-
reira.» – Don McLeese(5, p.106)

Assumindo a tarefa da produção – ou como diz McLeese, porque a sua editora já «não esperava muito em retorno»(5, p.107) – mas contando com a colaboração do “homem da Atlantic”, Geoffrey Haslam, e rodeando-se de vários excelentes músicos de estúdio (no qual se incluíam um par de teclados, um naipe de seis metais, e um coro de três vozes femininas) e amigos (o grande Bob Seger, como um dos seis percussionistas, é um exemplo), o resultado foi, sem dúvida alguma, o seu melhor álbum.

Uma das evidências do álbum é a predominância criativa de Fred “Sonic” Smith – quatro das oito músicas são da sua autoria – e, julgo, sem qualquer diminuição da sua vitalidade e originalidade.  A abrir o disco duas composições de Smith, Sister Anne, um rock ‘n’ roll sôfrego, a falar da Irmã Anne (Sister Anne don’t give a damn about evolution/ She’s a liberated woman, she’s got her solution/ Like a dinosaur, she’s going off the wall/ She’s gonna make it her own crusade) que, por certo, só pode ser uma daquelas irmãs que aparecem no filme Woodstock, de Michael Wadleigh.  Perfeita, a ironia final, da marcha do Salvation Army; e Baby Won’t Ya, um boogie hedonista (I said come on up and see me sometime/ I’m just a drunken’ sailor but I’m feeling so fine/ I’ve been out sailin’ on the seven seas/ Baby won’t ya give it to me).  Wayne Kramer aparece como o “romântico” do grupo numa canção carregada de conotações pouco idílicas, Miss X, (Heat gives way to sweat/ My body’s soaking wet/ We slide and slip/ From hip to lip) embora se “redime” na segunda faixa do lado dois do disco, com Poison (The partisans, not the artisans/ Are doing their dirty show/ But I ripped my pants/ Doing some dance/ That I learned in France/ And they think there ain’t nothin’ to know/ Used, abused/ Locked up, beaten and fined/ But I got free/ Copped a plea/ And I can see/ That there ain’t no freedom bell gonna chime/ This time), com um discurso tipicamente hippie (bom, na altura já era yippie).  Dennis Thompson é que dá o contributo mais mordaz de todos eles, com Gotta Keep Movin’ (Teachers, parents and politicians/... Presidents, priests and old ladies too/...), ao disparar em todas as direcções, ao atacar em várias frentes, mas tem a honra de fechar o lado um do disco.  No lado dois, que como em Kick Out The Jams, é o mais experimental, aparece a inaugurá-lo a contribuição de Rob Tyner, Future/Now, um verdadeiro manifesto apocalíptico, de um novo mundo que está para chegar (And our mind explodes in a post atomic dawn/ The future breaks like a tidal wave, engulfing everyone/ Confusion and chaos, the trauma of birth/ A strange new day for the people of the Earth/ Traditions, burned away by the rising sun).  A terminar, e tal como começou, outros dois temas de Smith, Over And Over é todo ele The Who – incluindo a letra (People talkin ‘bout solutions, over and over/ ‘Bout how we need a revolution, over and over/ I was talking ‘bout ecology, over and over/ ‘Bout how we’ll be saved by technology, over and over/ While the cat next door spends all his time/ Trying to think up new antisocial crimes), mas apesar disso, uma faixa decepcionante; e a fechar o disco, Skunk (Sonicly Speaking), um dos primeiros e raros exemplos de jazz-rock em que o jazz se submete ao rock – talvez a faixa mais interessante do álbum.

Outra das evidências, é que os temas políticos parecem ser mais numerosos quanto mais o grupo se vai afastando no tempo, da sua ligação ao WPP.  Não era Back In The USA mais “político” do que Kick Out The Jams? Não é este muito mais “político” do que o Back In...?

Na capa interior, o grupo dá a oportunidade a Wayne Kramer de revelar uma das suas facetas artísticas pouco conhecida, uma banda desenhada a propósito do álbum.

Cartaz com o cartoon de Wayne

Apesar de ter sido bem recebido pelos críticos musicais, o álbum não chegaria sequer a entrar na Billboard 200 – era o pretexto esperado pela Atlantic Records para cortar com o grupo.

«Parece quase demasiado perfeitamente iróni-
co que agora, neste momento da sua carreira,
quando a maioria das pessoas os têm dado co-
mo mortos ou moribundos, os MC5 consigam
retomar a acção com o primeiro disco que se
aproxima de contar a história da sua lendária
reputação e concomitante carisma.» – Lenny
Kaye(21)

«Suspeito de que os MC5 tinham de passar
por esses dois primeiros álbuns para chegar
a este. Certamente, este álbum pode estar ao
lado de qualquer um dos outros dois;  Kick
Out The Jams é mais importante como um
artefacto mas High Time, por pura música,
não precisa de se curvar perante ele.  Nem
um pouco.»  Dave Marsh(22)

«High Time mostrou que os 5 tinham tardia-
mente descoberto como canalizar para o estú-
dio o seu poder de pulverização, usando a tec-
nologia para melhorar a sua dinâmica ao in-
vés de a diminuir.»Don McLeese(5, p.106)


O Fim

A 13 de Dezembro, John Sinclair é posto em liberdade depois do Supremo Tribunal do Michigan ter declarado como inconstitucional a lei estadual sobre marijuana.  A verdade é que Sinclair quase se tornara num herói: tinha-se iniciado uma campanha chamada de Free John Now!, que inclusive já tinha provocado um episódio cómico em Woodstock, quando Pete Townshend resolveu correr (literalmente) à guitarrada um Abbie Hoffman completamente fora de si, que insistia em interromper a actuação dos The Who para fazer campanha a favor da libertação do “preso político” Sinclair.  A campanha, no entanto, só viria a tornar-se consideravelmente visível quando um recente imigrante inglês, um John Lennon todo radical, saltou para a carruagem e lhe deu não só alguma da sua notoriedade mas também algum do seu muito tempo livre.  A 10 de Dezembro, uma sexta-feira, seria a cabeça de cartaz de um concerto que reuniria entre outros, alguns dos amigos do encarcerado, como Bob Seeger e Archie Shepp, uma série de nomes locais (entre os quais o de Stevie Wonder), para além dos compagnon de route Jerry Rubin, Bobby Seale e Allen Ginsberg, e ainda quinze mil outros fora do palco – os MC5 tinham, pura e simplesmente, sido ignorados.

Cartaz do concerto Free John, 1971

«Não me sinto magoado (...) mas senti-me o-
fendido pelo facto de que não fomos convida-
dos para tocar nessa coisa. (...) Mas tal como
fizemos todo o trabalho sujo, todos esses con-
certos de beneficência no Grande Ballroom e
todo esse dinheiro, e quando algo de grande
acontece, que nos poderia realmente ter aju-
dado – nós poderíamos ter tido um monte de
gente, percebes E nós tentámos, desde o mi-
nuto em que soubemos que a coisa estava
mesmo a acontecer.»Wayne Kramer(13)

John e Yoko no Free John Concert

No início de Fevereiro, o grupo parte para a Europa de aonde só regressa dois meses depois, e já reduzido a quatro elementos: Michael Davis, o baixista, tinha sido despedido porque a sua dependência da heroína já não o permitia colaborar com o resto do grupo.

Os MC5 em Londres, 1972

«Assim, quando consegui chegar lá, o Dennis foi
buscar-me ao aeroporto e disse-me: “Oi Mike, as
coisas não estão bem e toda a gente está chatea-
da” e [eu respondi-lhe]: “Leva-me aonde possa
comprar alguma droga.” E assim fizemos isso e
toquei nalguns espectáculos, então, cerca de u-
ma semana depois, os gajos chamaram-me e ti-
vemos uma reunião no quarto de alguém e eles
disseram-me que eu estava de fora. Então foi as-
sim.» – Michael Davis(23)

Na Europa, a primeira paragem é em Londres aonde, em meados de Fevereiro, gravam uns quantos temas (Train Music, Inside Out, e Gold) que virão a ser integrados na banda sonora de um filme então a ser realizado por Ronan O’Rahilly, o fundador da rádio pirata Radio Caroline, e que se virá a chamar de Gold.  A digressão prosseguiu depois por França com um breve regresso a Inglaterra e, por fim, a Alemanha. Nesse mesmo ano regressam ainda por duas outras vezes, uma durante o verão, outra em Novembro, mas por esta altura já o grupo estava reduzido aos dois guitarristas, Wayne Kramer e Fred “Sonic” Smith (Rob Tyner não queria abandonar a família e Dennis Thompson estava numa cura de metadona), que com elementos recrutados conforme as necessidades percorrem a Inglaterra, Finlândia, Suécia, Dinamarca e França – as datas marcadas para Itália viriam a ser canceladas depois dos promotores descobrirem que dos membros originais do grupo já só restavam dois.

Os MC5 num pub londrino, 1972

«Então voltamos aos Estados Unidos por cinco
semanas para limparmos os nossos apartamen-
tos e para nos livrarmos dos nossos carros e to-
da essa merda.  Todas essas merdas de bens,
meu – eu tenho mais coisas do que as que pre-
ciso agora na estrada.» – Wayne Kramer(16)

Em Dezembro de 1972, ainda dão um concerto em Inglaterra, mas mesmo pela Europa, o grupo já não conseguia reunir o número suficiente de espectadores que justificasse a sua actuação.  De regresso aos EUA, a situação ainda é pior.  Para a passagem de ano, são convidados a actuar no Grande Ballroom, a sala que os fizera nascer para o mundo há pouco mais de seis anos, e aonde acabam por dar o seu último concerto e, curiosamente, o último concerto de sempre da própria sala.  O montante oferecido era dez vezes menor do que cobravam nos tempos áureos, quinhentos dólares, e o mesmo se pode dizer do número de espectadores presentes, uma centena de pessoas.  Duas ou três músicas tocadas, e Kramer avisa o Smith de que se ia embora e partiu o mais rapidamente possível com os seus cem dólares no bolso, para comprar mais uma dose de heroína: os MC5 tinham assim chegado ao fim.

__________________________
(1)   SINCLAIR, John. A letter from prison, another side of the MC5 story, and (incidentally) the end of an era.” Creem, Volume 2, Nr. 7. January 1970;
(2)   SOMMA, Robert. “Jon Landau Writer-Producer. Interview. Part 2”. Fusion. October 30, 1970;
(4)   GROSS, Jason. MC5- John Sinclair Interview. Online Music Magazine Presents. Perfect Sound Forever. November 1998;
(5)   MCLEESE, Don. “Kick Out The Jams”. 33⅓ Series. New York: The Continuum International Publishing Group Inc., 2005;
(6)   TYNER, Rob. Kick Out The Jams. CD Sleeve Notes. 1991;
(7)   MC5 Kick Out The What?” Rolling Stone, No. 31, April 19, 1969. p.14;
(8)   White Panther Party. White Panther State/meant. Fifth Estate, November 1968;
(9)   BANGS, Lester. “James Taylor Marked for Death. Psychotic Reactions and Carburetor Dung”. New York: Anchor Books, 2003. p.56note;
(10) BANGS, Lester. “Kick Out The Jams”. Rolling Stone, No. 30. April 5, 1969. p.16;
(11) JOHNSON, ART. “Motor City Madness”. Berkeley Barb, Vol. 8, No. 12. Issue 188. March 21-27, 1969;
(12) SINCLAIR, John (Chairman, White Panther Party). “Correspondence, Love Letters & Advice”. Rolling Stone, No. 51. February 7, 1970. p.3;
(13) FONG-TORRES, Ben. “Shattered Dreams In Motor City”. Rolling Stone, No. 110. June 8, 1972. pp.31/32;
(14) EDMNONDS, Ben. “Back In The USA” Review. Fusion, March 20, 1970;
(15) SHIMAMOTO, Ken. Part 2. Dennis Thompson: Phantom Patriot. I-94 Bar. March 24 & 28, 1998;
(16) KENT, Nick. “MC-5 Interview”. Frendz, No. 24. 31 March 1972;
(17) MARCUS, Greil. “Back In The USA, The MC5”. Rolling Stone, No. 58. May 14, 1970. p.58;
(18) MARSH, Dave. Back In The USA. CD Sleeve Notes. 1991;
(19) “Random Notes”. Rolling Stone, No. 66. September 17, 1970;
(20) HODENFIELD, Chris. “Rough trade from Venus”. Strange Days, Nr. 1, September 11, 1970;
(21) KAYE, Lenny. “High Time”. Rolling Stone, No. 90. September 2, 1971. p.43;
(22) MARSH, Dave. “MC5 Back On Shakin’ Street”. Creem, Volume 3, Nr. 5.
October 1971;
(23) SHIMAMOTO, Ken. Michael Davis: Happy In His Universe. I-94 Bar. May 17 & 31, 1998 ( );

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