Eu não posso deixar de me lembrar pois que entre nós, há uma das mais profundas decisões da minha adolescência: algures em 1972, quando decidi oferecer a todos os meus amigos aniversariantes, uma cópia do single Children Of The Revolution.
Yeaahhhhh
Well you can bump and grind
It is good for your mind
Well, you can twist and shout
Let it all hang out
But you won’t fool
The children of the revolution
No, you won’t fool
The children of the revolution, no, no, no
Ou não fosse eu um filho da revolução...
Claro que já conhecia o exótico Ride A White Swan (Outubro de 1970), e o prestes-a-explodir Hot Love (Fevereiro de 1971), e essa loucura estrondosa que foi Get It On (Julho desse mesmo ano), e sei lá mais quantos sucessos que eles tinham conseguido colocar nas tabelas, mas nenhum me tinha conseguido apanhar pelas entranhas – porque eu gostava era dos Rolling Stones... e, na altura, um grupo com vários sucessos comerciais era para ser encarado com o sobrolho em riste e, pelo menos, uma pedrinha em cada um dos orifícios auditivos e depois, o máximo de androginia que eu estava preparado para admitir, eram os maneirismos do Jagger, e o Marc Bolan ia muito para além disso, com os seus bibes coloridos e sapatinhos de menina de ballet.
Marc Bolan
O Começo...
Bom, é um pouco complicado estabelecer-se um começo para o grupo porque antes de Bolan ser T. Rex, já era Tyrannosaurus Rex, se tivesse sido outra coisa qualquer poder-se-ia, definitivamente, falar em grupos diferentes, assim não. Mas vamos por partes...
Marc nasceu Ferrel, antes de optar por ser Bolan, e desde muito cedo começou a demonstrar uma personalidade ambiciosa. Aos quinze anos, abandona a escola e tenta vários biscates enquanto em paralelo, insiste numa carreira musical. Como Toby Tyler grava várias músicas mas não consegue merecer qualquer tipo de atenção. Em Novembro de 1965 e já como Bolan – «Quando o Mark mudou o seu nome, o Jimmy Bolam ficou muito ofendido porque achava ser verdadeiramente escandaloso que ele usasse o seu nome, então o Mark mudou o ‘M’ para ‘N’, tão simples quanto isso. Não teve nada a ver com o Bob Dylan.» – explica Riggs O’Hara(1) – faz sair através da Decca Records, o seu primeiro single, The Wizard/Beyond The Rising Sun, um exemplar antes do tempo de Rock psicadélico que não irá ter qualquer impacto na sua carreira.
«Quanto ao Wizard, bom, era apenas eu. As
histórias que o Mark iria inventar sobre o Wi-
zard ser alguma outra pessoa foi a sua manei-
ra de me proteger. Todo o mito que cresceu,
ele inventou-o.» – Riggs O’Hara(1)
No ano seguinte, ainda a solo, conseguirá fazer sair mais dois singles: um na Decca Records, em Junho, com os temas The Third Degree/San Francisco Poet, e outro em Dezembro, através da Parlophone Records, Hippy Gumbo/Misfit que, segundo se diz, recebeu alguns elogios por parte de Jimi Hendrix.
Em Fevereiro de 1967, o seu novo manager, Simon Napier-Bell, junta-o a um grupo que apesar de ser bastante popular no circuito ao vivo de então, nunca conseguiu traduzir isso através da venda de registos, os John’s Children, com o intuito de os dotar de mais uma guitarra, mas essencialmente de um letrista. Bolan compõe para eles alguns dos temas mais conhecidos do grupo, Desdemona (editado em Maio) e Midsummer Night’s Scene (em Julho).
«Eles na verdade, queriam uma combinação
de Pete Townshend/poeta. E eu cabia à me-
dida.» – Marc Bolan(2)
Mas em meados do ano, ele abandona o grupo e uns tempos depois, com um personagem instável e que gostava de tocar instrumentos de percussão, Steve “Peregrine” Took, forma os Tyrannosaurus Rex, um duo essencialmente acústico que, segundo John & Shan Bramley, «(...) mostra um Bolan fortemente influenciado pela cena dos anos sessenta, quando a mensagem era Amor e Paz, e toda a gente que era alguém, carregava consigo cópias dos clássicos de Tolkien, o Hobbit e os três volumes de O Senhor dos Anéis. Marc levou as influências de Tolkien a um outro patamar, e desenvolveu o seu próprio mundo de anões, elfins, dragões e donzelas bonitas, e começou a desenvolver o seu próprio mundo, o ‘Rarn’.»(3)
Steve “Peregrine” Took e Bolan
Para o dueto, os primeiros tempos foram difíceis, percorrendo ruas movimentadas e saídas de estações de metro, até que o famoso DJ da Radio One, da BBC, John Peel resolve passar no seu programa uma das gravações do grupo enviadas pelo próprio Bolan. Peel acabaria por vir a tornar-se num dos mais incondicionais seguidores do grupo exercendo pressão doravante para que eles venham a ser devidamente registados.
Em Abril de 1968, através da recém reavivada Regal Zonophone, uma subsidiária do EMI Group, sai então o primeiro single do grupo, Debora/Child Star, enquanto o seu primeiro trabalho de longa duração, com o ufa! nome de My People Were Fair And Had Sky In Their Hair... But Now They’re Content To Wear Stars On Their Brows, produzido por um yankee desconhecido e recém chegado a Londres, de nome Tony Visconti, e gravado nos Advision Studios, em Londres, acabaria por vir a ser publicado três meses depois, em Julho. John Peel, para além de aparecer a declamar um dos poemas de Bolan no seguimento da última faixa listada do disco, Frowning Atahuallpa (My Inca Love), ainda aproveita os seus programas para divulgar repetidamente o álbum, apontando o duo como as novas estrelas da cena underground londrina. O resultado do seu entusiasmo acabaria por verificar-se no #15 nas Charts britânicas, atingido pelo álbum.
O álbum é interessante, com alguns temas conseguidos mas, no geral, monótono e definitivamente marcado no tempo (quero dizer: naquela onda acústica-hippie) – ouvi-lo hoje é uma tarefa que exige alguma coragem e muita mais paciência, mas fica a excelente capa da responsabilidade de George Underwood.
No último fim de semana de Junho, o duo participa no primeiro concerto livre de Hyde Park, ao lado de alguns dos seus pares mais sonantes, ligados à cena underground londrina.
O álbum seguinte, Prophets, Seers & Sages-The Angels Of The Ages, gravado nos Trident Studios, de Londres, viria a ser publicado no princípio do quarto trimestre desse mesmo ano, e embora mais melódico e polido, é uma perfeita sequência do primeiro trabalho do duo. Realce para a notável evolução na produção, uma vez mais entregue às mãos de Tony Visconti. Em termos estritamente comerciais, deve ter sido um dos piores registos da Regal Zonophone o que não invalida o facto de, quatro anos depois, no pico da fama dos T. Rex, este e o álbum inicial terem sido reeditados sob um único título, Tyrannosaurus Rex: A Beginning, e de ter conseguido chegar ao #1 das Charts.
Steve “Peregrine” Took e Bolan
O terceiro trabalho do grupo, Unicorn, aparece em Maio de 1969. Nada de novo quanto ao estúdio e ao produtor: Trident Studios e Tony Visconti. Abro aqui um parêntesis apenas para dizer que, segundo se dizia na altura, Visconti desistira de um outro seu protegido, David Bowie, para se concentrar definitivamente na carreira de Bolan. Nada de concreto sei sobre o assunto... talvez que para o desenvolvimento desse rumor, não seja alheia a notável evolução que os três discos do grupo apresentam em termos de produção: este último é sem dúvida alguma, o melhor deles. O grupo apresenta-se mais concentrado e conciso, mas também mais vivo, e Visconti avança em paralelo com eles. Claro, nas Charts conseguem a sua melhor posição de sempre, um #10.
Em Julho, o seu público é surpreendido com o single King Of The Rumbling Spires/Do You Remember, aonde Bolan aparece a tocar guitarra eléctrica e, pouco tempo depois, embarcam numa primeira digressão pelos EUA. É nesta digressão que o duo se separa em definitivo, oficializando uma situação que já existia, de facto, há algum tempo: Bolan optara por levar a sua carreira mais a “sério” enquanto Took se embrenhava cada vez mais no underground e isso implicava, para ambos, estilos de vida diferentes. Quando a digressão chegou ao fim, um Took diariamente em ácido, desapareceu para sempre com uma miúda qualquer que conhecera uns dias antes...
«Ele queria incendiar a cidade e colocar á-
cido na canalização da água. (...) Concor-
dámos em acabar, mas estávamos legalmen-
te obrigados a fazer a nossa primeira digres-
são americana. Nós fizemo-la, mas foi um
desastre.» – Marc Bolan(2)
Pouco tempo depois, num restaurante vegetariano, Bolan encontra o seu novo parceiro, Mickey Finn, um pintor psicadélico já então relativamente popular e que, segundo dizia, sabia tocar tambores africanos.
«eu conheci-o por acaso e ele foi muito, mui-
to persistente. (...) E ele apareceu no dia se-
guinte, e nós como que deitámos fogo à casa.
A próxima coisa, estava a caminho de um lu-
gar chamado Plas, em Gales, aonde trabalhá-
mos o “Beard Of Stars”.» – Mickey Finn(4)
Em Janeiro de 1970, sai o single By The Light Of A Magical Moon/Find A Little Wood, anunciando para breve um novo álbum: A Beard Of Stars, o quarto e último trabalho dos Tyrannosaurus Rex é como que a versão eléctrica do habitual som acústico de Bolan que, por isso, perde aquele ambiente oriental que o caracterizava. Como a maior parte do material já tinha sido gravado com Took, foi necessário por isso “limpá-lo” e, por sua vez, a presença de Finn é quase nula, incluindo nos coros, que foram construídos por Visconti através da multiplicação em estúdio, da voz de Bolan. Gravado uma vez mais nos já habituais Trident Studios, é lançado pela Regal Zonophone a 13 de Março de 1970 e, no dia seguinte, aparece nas Charts britânicas na mais alta posição que irá conseguir, o #21. Apesar de já terem realizado uma digressão pelos EUA, é com este álbum que os Tyrannosaurus Rex conseguem pela primeira vez, que um registo seu seja disponibilizado naquele país, tendo a editora ido buscar o álbum anterior, Unicorn, e posto-o à venda na mesma altura.
«Algumas das músicas do lado um são boas,
mas nenhuma se compara com as inspiradas
melodias de Unicorn, e o lado dois é chato e
auto-indulgente.» – Ken Simmons(5)
Mickey Finn & Bolan
Montando Um Cisne Branco
A pouca receptividade com que o último álbum do duo é recebido, provoca em Bolan uma profunda desmotivação, o que o leva inclusive a encarar a hipótese de abandonar a carreira musical e a dedicar-se apenas à poesia – em 1969, ele chegara a publicar um livro com alguns dos seus poemas, intitulado The Warlock Of Love. Terá sido a sua mulher, June, que farta de o ver a arrastar-se pela casa, quem o obriga a fechar-se num quarto e a só sair de lá com novos temas.
Bolan e June Childe
Uma das composições que June encontrou no dia seguinte, captou-lhe de imediato a atenção, e nesse mesmo dia, incitado por ela, Bolan entra em contacto com Visconti para iniciar a sua gravação. A 1 de Julho, no Trident Studios, Bolan e Visconti gravam Ride A White Swan que, com Is It Love/Summertime Blues no lado B, é posto à venda a 9 de Outubro, por uma independente recentemente criada, a Fly Records, aparecendo na capa do disco, o nome do grupo já abreviado para T. Rex – «A mudança de Tyrannosaurus Rex para T. Rex foi em muito arquitectada pelo Tony.» – Rick Wakeman(6). A música é basicamente montada a partir da guitarra de Bolan sobreposta quatro vezes, com partes de baixo também tocadas por ele, e uma secção de cordas adicionada por Visconti. No dia 24 entra pela primeira vez nas Charts, no #47, e apenas a 14 de Novembro atinge o #30. Aparentemente, o single parecia destinado a ser mais um fracasso, até que alguém na Radio One resolveu pô-lo no ar... ao longo dessa semana, outras estações iriam acabar por lhe dar também algum tempo – nas Charts do fim da semana, o single subiria para o #15 e, sempre a subir, atingiria o #2 a 23 de Janeiro de 1971, e era tudo, aparentemente, tão simples quanto a explicação de Bolan para esse acontecimento: «A maioria dos sucessos pop são uma variante dos blues de 12-barras. Eu encontrei uma que funciona.»(7).
«“Ride a White Swan” é um bom disco, um
disco inteligente, e um disco próximo-de-ser
-sucesso.» – Paul Gambaccini(8)
Novas sinergias alimentavam agora a parceria Bolan/Visconti: um novo álbum é de imediato iniciado aproveitando o energético regresso provocado pela esperança que Ride A White Swan provocara e, em aproximadamente um mês, o grupo regressa aos Trident Studios para gravar o álbum que viria a ser conhecido por T. Rex, com Bolan encarregando-se das guitarras, baixo, teclas e vocalização, Finn das congas e, esporadicamente, do baixo, e Visconti, para além do seu trabalho de produção, dando uma mãozinha nas teclas. Dois ex-membros dos Turtles, Howard Kaylan e Mark Volman, amigos de Bolan desde o tempo da sua primeira digressão pelos EUA, agora já sob o enigmático nome de Flo & Eddie, de passagem por Londres como parte do grupo Mothers Of Invention, dão uma ajudinha nos coros (em Seagull Woman) que geralmente são da responsabilidade de Finn e Visconti.
Ride A White Swan
Posto à venda a 18 de Dezembro, cerca de um mês depois, aparece pela primeira vez nas Charts. Uma semana mais tarde, a 23 de Janeiro de 1971, sobe dois lugares para o #22 e, na semana seguinte, desce para o #25. A 12 de Fevereiro, é posto à venda o single Hot Love que já vinha a ser divulgado há uns dias pelas rádios inglesas, e no dia 13, o álbum que entretanto desaparecera das tabelas reaparece de novo e passa para o #7.
Marc Bolan
Muito mais Rock do que o anterior mas sem a magia de Unicorn, utiliza ainda a imagética hippie do aí-vêm-os-extra-terrestres-salvar-nos, enunciada no tema de abertura, The Children Of Rarn (We are the children of Rarn/ And we are the seekers of space/We’ve seen our master’s face/It’s young and gold/ And silvery old/ We are the seekers of space/ OM). Jewel, por muito minimal que seja, é uma faixa com uma guitarra que nos leva para a selva; The Visit é mais um pedaço de ficção científica hippie (It was noon/ A ship of the silverest metal/ Shadowed out/ All of the moon/ A shape/ That was golden and crimson) sem qualquer interesse relevante, e de Childe esperava mais… ou antes, melhor. The Time Of Love Is Now é uma faixa de que gosto em especial, não só pela sua letra (Light up your face/ With all the love within you/ Say your word/ Make it heard/ Light up the wind/ With all the kings inside you/ Shout it out/ Have no doubts/ For the time of love is now) mas também pela sua construção dramática que, deduzo, tenha os dedos mágicos de Visconti – bom, se esquecer a maneira como termina... Se Diamond Meadows é despropositada, Root Of Star tem uma guitarra que me volta a exigir alguma atenção – é a magia de Unicorn, uma vez sem exemplo, de regresso... e, para terminar o lado um do álbum, Beltane Walk, um tema pop com muito swing não só pelo trabalho de Visconti (o que seria do tema sem aquela secção de cordas?) mas também pela própria vocalização de Bolan. A abrir o lado dois, um pedaço de boogie, curto e eléctrico, com Is It Love?; One Inch Rock é a recuperação de uma canção antiga – uma das recuperações, a outra é The Wizard, mas que nada acrescentam aos originais. Summer Deep, Seagull Woman e Suneye são para esquecer. Resumindo: algumas faixas boas... Jewel, The Time Of Love Is Now, e Beltane Walk; uma interessante em Root Of Star, e o resto, ou seja, muito mais de dois terços do álbum é material medíocre.
«Surpreendentemente, tudo saiu rock and roll;
não há que questionar isso. Mas rock and roll
com letras que falam de temas tais como magos,
druidas, e uma Poetisa Líquida num vestido de
camurça. Bolan é claramente um apaixonado
pelo misticismo, assim como pelo puro som da
língua Inglesa.» – Todd Everett(9)
Na capa do disco, uma foto tirada pelo fotógrafo do grupo, Pete Sanders, aos dois membros do grupo, com um Bolan em pose com a sua guitarra eléctrica, ambos com o rosto coberto por uma máscara branca de maquilhagem. Sanders explica o enredo: «Tudo isso fazia parte da nova imagem eléctrica que o Marc estava a tentar criar e era por isso que ele queria ser fotografado com a sua guitarra eléctrica. O Marc era meticuloso acerca da imagem.»(7)
Capa de T. Rex
Rapidamente o grupo passa a quatro peças, tendo entrado Bill “Legend” Fyfield para a bateria, e Steve Currie para o baixo, em finais de Novembro. É com esta formação que os T. Rex irão gravar nos IBC Studios, o single Hot Love. Publicado pela Fly Records em Fevereiro de 1971, com Woodland Rock/King Of The Mountain Cometh no lado B, em cerca de um mês atinge o #1 das Charts, aonde se irá manter até Maio.
T. Rex
Inspirada na Hey Jude dos Beatles, Hot Love é, quanto a mim, muito mais simples e a coda nela funciona como uma expressão de garra e alegria, quase um grito arrogante de revolta. Algo que ainda convém realçar, é a mudança no estilo de escrita de Bolan, regressando a algo mais básico e hedonista (Well she ain’t no witch and I love the way she twitch... a, ha, ha.../ I’m a labourer of love in my persian gloves... a, ha, ha…) e, depois, toda uma atitude adolescente e rebelde que viria a ser realçada nas suas actuações ao vivo...
Marc Bolan
Com o single colocado no #1 das tabelas britânicas, o grupo aparece no programa de televisão da BBC para adolescentes, o Top Of The Pops, em 24 de Março, com um Bolan maquilhado com lágrimas brilhantes, à la Pierrot, e um decote andrógino numa farda de marinheiro, sempre com aquele ar de uma Elizabeth Taylor de reputação duvidosa – a imprensa musical começa então a falar em Glitter Rock, termo de aonde surgiria, algum tempo depois, o chamado Glam Rock.
«A 9 de maio, a primeira noite no Winter Gar-
dens, de Bournemouth, os fãs atropelavam-se
uns aos outros para chegarem mais perto do no-
vo Messias. Duas noites depois, no Guildhall,
em Portsmouth, o DJ Bob Harris lembra-se das
raparigas se aproximarem de Bolan com tesou-
ras, depois do concerto, na esperança de corta-
rem um anelzito da sua cabeça, como prémio.
“Na altura em que chegámos a Glasgow (21 de
Maio)”, diz Harris, “as cenas foram inacreditá-
veis. Chegámos com uma escolta da polícia, e o
jornal de lá tinha um título grande cruzando a
sua capa – ‘T.REXTASY!’”»(10)
A T. Rextasy alastra rapidamente por todos os cantos da velha Albion e aonde o grupo actua, é invariavelmente a histeria completa. Em Julho, sai o seu single mais popular de sempre, Get It On. Em apenas uma semana, passa do #21 para o #4 da tabela. Na semana seguinte, a 24 de Julho, chega ao #1 aonde se mantém por quatro semanas. Nos EUA, com o título modificado para Bang A Gong (Get It On) para evitar ser confundida com uma canção do grupo The Chase (há também quem diga que terá sido por causa da conotação sexual expressa pelo título(11)), pela primeira vez, o grupo consegue alcançar o Top Ten da Billboard.
«“Bang A Gong” usa “dirty sweet” com o seu
máximo valor de carinho e isso é apenas a pon-
ta do icebergue. (...) os gritos e gemidos excita-
dos de Bolan fazem do disco uma obra-prima
cómico-erótica.» – Dave Marsh(11)
Basicamente gravado nos EUA, mais propriamente nos Wall Heider Studios de Los Angeles, conta de novo com a presença do duo Flo & Eddie nos coros. Em gravações posteriores, efectuadas nos Trident Studios, aonde a música também viria a ser misturada, aparece nas teclas, Rick Wakeman e, nos metais, Ian McDonald dos King Crimson.
«Esse dia, foi em muito uma celebração, lem-
bro-me de que tínhamos por lá montes de be-
bida, um pouco de champanhe. O Bolan era
muito uma pessoa de sensações. Se a sensação
estivesse lá, nós fazíamos a coisa em dois ou
três takes.» – Tony Visconti(12)
Pela primeira vez, desde que se conhecem, John Peel recusa-se a passar no seu programa uma música do grupo – Bolan nunca lhe irá perdoar isso! – e eu até o compreendo pois lembro-me de, na altura, ter achado que mais comercial do que aquilo não poderia haver. Ouvindo-a hoje, longe dos dilemas e paranóias de que vivíamos então, a canção tem um ritmo primitivo e contagiante (Bolan atribuiu a sua inspiração a Little Queenie de Chuck Berry (daí a frase final, And meanwhile, I’m still thinking, extraída desse clássico) que envelheceu com toda sua sensualidade intacta.
«O Marc trouxe-me uma etiqueta branca ou
um acetato. Depois de o ouvir, pensei que se
não fosse do Marc eu não o passaria. Então
não o devia passar.» – John Peel(13)
_______________________
(1) BARDEN, Martin. “The Wizard Unmasked!”. Record Collector, No. 217. September 1997. p.26;
(2) HODENFIELD, Chris. “Tyrannosauros Enters Rock Age”. Rolling Stone, No. 91. September 16, 1971. p.71;
(3) BRAMLEY, John & Shan. “The Early Years”. Marc Bolan & T-Rex Anthology CD sleeve notes. Essential Records. 1991;
(4) PAYTRESS, Mark. “T. Rex. The Survivors. The Record Collector Interview”. Record Collector, No. 210. February 1997. p.74;
(5) SIMMONS, Ken. “Unicorn. A Beard Of Stars”. Records. Rolling Stone, No. 63. July 23, 1970. p.32;
(6) PAYTRESS, Mark. “T. Rex”. Mojo, No. 138. May 2005. p.76;
(7) PAYTRESS, Mark. “T. Rex”. Mojo, No. 138. May 2005. p.78;
(8) GAMBACCINI, Paul. “Ride a White Swan”. Singles. Rolling Stone , No. 76. February 18, 1971. p.56;
(9) EVERETT, Todd. “T.Rex”. Records. Rolling Stone, No.87. July 22, 1971. p.42;
(10) PAYTRESS, Mark. “T. Rex”. Mojo, No. 138. May 2005. p.82;
(11) MARSH, Dave. “905 Bang A Gong (Get It On), T. Rex”. The Heart Of Rock & Soul: The 1001 Greatest Singles Ever Made. New York: Da Capo Press. 1999. p.574;
(12) “92. Bang A Gong (Get It On). T. Rex”. The 100 Best Singles Of The Last Twenty-five Years. Rolling Stone, No. 534. September 8th, 1988. p.144;
(13) PAYTRESS, Mark. “T. Rex”. Mojo, No. 138. May 2005. p.83;
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