segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Nick Drake ~ Pink Moon

Por razões várias, umas mais claras do que outras, no início da década de 70 começou a surgir uma vaga de cantores-autores, mais ou menos ligados ao Folk, mais ou menos intimistas, mais ou menos com problemas existenciais...

James Taylor que em finais de 1968, tinha lançado por intermédio da etiqueta dos Beatles, a Apple, o seu quase desconhecido álbum homónimo viria a, em Fevereiro de 1970, com o sucesso de Fire And Rain, single extraído do álbum Sweet Baby James e aonde ele “relata” toda uma série de experiências intimas, marcar essa tendência que se tornaria dominante na Pop Music de um determinado período.  É assim que sobressaem Carole King com o seu álbum Tapestry, aonde pontua You’ve Got A Friend, e Carly Simon que viria a ser esposa de Taylor e cuja primeira notória ligação amorosa, e que daria origem ao tema-título do seu segundo álbum lançado em finais de 1971, Anticipation, teria sido com o inglês príncipe-de-todos-os-males-do-mundo Cat Stevens.  Stevens já era um nome conhecido e com alguns sucessos comerciais (Matthew & Son e The First Cut Is The Deepest, em Março e Dezembro de 1967) quando foi obrigado a fazer um hiato na sua carreira para ser internado num hospital por ter contraído tuberculose.  Segundo ele, esta sua reclusão tê-lo-á obrigado a pensar na Vida e a procurar um novo sentido para ela.  Em 1970 lança Mona Bone Jakon (cujo título se refere ao nome fictício que dava ao seu próprio pénis) aonde já era evidente essa mudança.  Durante dois anos, ele será o príncipe dos que têm o mundo centrado no seu próprio umbigo.

Em Setembro de 1969, pela prestigiada Island Records, sai Five Leaves Left, um álbum de um jovem de voz melodiosa e grave mas carregada de melancolia, chamado Nick Drake, e que se fazia acompanhar pela sua guitarra acústica e por um grupo de apoio que incluía alguns dos instrumentos da nova Folk Music, (guitarra eléctrica e uma secção rítmica composta por baixo, bateria e, essencialmente, congas) e por uma secção “clássica” (piano e instrumentos de cordas) que servia para dramatizar ainda mais, a mensagem pronunciada pelas suas próprias palavras...

Time has told me / You’re a rare rare find / A troubled cure / For a troubled mind

Capa e contra-capa de Five Leaves Lefte pacote da Rizla com mortalha de aviso “only 5 leaves left”

Drake provinha de uma família da classe média rural com ligações ao colonialismo britânico na Ásia, de uma zona do interior-centro de Inglaterra chamada Warwickshire, aonde ele irá ter um crescimento “normal”: na escola era tido por um jovem inteligente com queda para o desporto mas que não fazia muitas amizades devido ao seu carácter autoritário.  Em casa, por influência dos pais, dedicava muito do seu tempo livre à música.
Com a entrada na adolescência começou a demonstrar um certo desinteresse pelas actividades académicas e a virar-se cada vez mais para a música – para além de trocar o atletismo e o rugby pela banda da escola, em paralelo formou com uns colegas, um grupo que se dedicava a covers... mas rapidamente foi corrido dele.
Em 1966 consegue uma bolsa para estudar Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge mas adia o seu ingresso para frequentar a partir de Fevereiro de 1967, um curso de Verão em França, na Universidade de Aix-Marseille, aonde viria a tornar-se um consumidor assíduo de marijuana e esporádico de LSD.  No fim do verão, está de regresso a Inglaterra aonde entra em Cambridge mas o seu alheamento pela vida universitária – tal como para muitos outros – era total, preferindo antes concentrar-se na música, ouvindo-a e tocando-a, sempre que possível.  Ian MacDonald, em Exiled from Heaven: The Unheard Message of Nick Drake, por conhecimento próprio, descreve assim esses tempos: «The stately air was fragrant with marihuana and no one seemed to be doing a stroke of work. (…) In every half-hip college room, hirsute youths lolled in drug-liberated converse while fey girls curled worshipfully at their feet or came and went with mugs of scented tea. When the holy relics of the moment weren’t revolving on the turntable, out came the acoustic guitars.»(1)
E é assim que Nick é apanhado numa das suas actuações por Ashley Hutchings, o baixo dos Fairport Convention, e é levado até Joe Boyd, o patrão de uma companhia de caça-talentos ligada à Island Records, e, em pouco tempo, lhe é proposto gravar um álbum ao que, segundo Boyd, terá respondido apenas com um «Oh, well, yeah. Okay.»
Entre Five Leaves Left e Bryter Layter, o seu segundo álbum, publicado em Novembro de 1970, Nick pouco mais fez do que desistir do seu curso e mudar-se para Londres com o pretexto de se dedicar à carreira musical, mas aonde acabaria por levar um modo de vida que o levaria à destruição da sua própria pessoa, recusando um convívio normal com mantinha laços de parentesco ou amizade e aceitando passivamente a deterioração da sua condição psíquica.  Qualquer tentativa por parte da Island Records na promoção da sua carreira era imediatamente condenada ao fracasso: as entrevistas eram arrancadas à força e aos entrevistadores só lhes restava ficar com as poucas resposta monossilábicas obtidas.  As poucas actuações que aceitava cumprir geralmente acabavam em jam sessions sem qualquer nexo ou brilho, aonde muitas das vezes nem cantava, e só assim era quando ele não se escapava a meio...
Graças à habitual tendência protectora de Chris Blackwell, o patrão jamaicano da Island, para com seus contratados evitava o que o resto do pessoal da etiqueta mais desejava: pô-lo a andar!
As vendas registadas por esses seus dois trabalhos, apesar de algumas críticas moderadamente favoráveis por parte da imprensa especializada e da admiração imoderada do melhor DJ de sempre, John Peel, que o passava entre rasgados elogios, nunca ultrapassaram o número de alguns poucos milhares de exemplares e o desapontamento e frustração sentidos por ele iria, gradualmente, desencadear uma depressão que agravaria a sua condição psíquica ao ponto de ele próprio ter aceite procurar tratamento médico.  Depois de um breve período em casa dos pais, regressa a Londres aonde a sua existência se limita a dormir em casa de conhecidos para desaparecer uns dias depois sem qualquer explicação, umas actuações no mais completo anonimato apenas para amealhar o suficiente para a compra de «unbelievable amounts of  cannabis»(2) que, segundo o seu amigo Robert Kirby, consumia, e um completo desapego pelo seu aspecto quer em termos de roupa, quer em termos de higiene.

 
Mas eis que em Outubro de 1971, depois de uns dias passados em Espanha numa casa de férias de Chris Blackwell, ele entra em contacto com John Wood no sentido de o ter como produtor do seu novo trabalho.  Wood, com alguma dificuldade, consegue uns períodos livres no Sound Techniques Studios mas a horas tardias o que para Nick não representava um problema.  Em apenas algumas horas em duas noites, Nick e Wood gravam o que viria a ser aquele que hoje é considerado o seu melhor trabalho: Pink Moon.
«He arrived at midnight and we started.  It was done very
 quickly.  After we had finished, I asked him what I should
 keep, and he said all of it, which was a complete contrast to
 his former stance. He came in for another evening and that
was it. It took hardly any time to mix it, since it was only his
voice and guitar, with one overdub only. Nick was adamant
 about what he wanted.  He wanted it to be spare and stark,
 and he wanted it to be spontaneously recorded.»(3)    recorda
 John Wood numa entrevista dada a Connor McKnight, da
 revista Zig Zag.

Linda Thompson que então era a namorada de Joe Boyd,
 de uma visita que fez ao estúdio lembra-se de que «He was
 in a dreadful state, totally incommunicado. Im surprised he
didn’t throw me out. He didn’t speak to John Wood either.»(2)

Capa do LP

Pink Moon são onze temas (num total de cerca de vinte e oito minutos) aonde apenas a facha-título inclui outro “instrumento musical”, o piano, que não a voz e a guitarra acústica de Nick, e aonde apenas Horn é um instrumental, sendo as restantes fachas veículos mágicos para as mensagens enigmáticas mas densas de uma profunda desilusão, desta espécie de bardo druida – o simbolismo dos elementos ligados à natureza é uma constante como se o seu vocabulário fosse limitado ao Universo.
Magia é o que Nick consegue fazer com as cordas da sua guitarra acústica quase mal afinada (não creio que se possa dizer desafinada...) e a sua voz captada como se tivesse a contar só para nós todas as suas observações de ser dotado de uma sensibilidade anormal, do mundo em que vivia.  Na desilusão que prevalece, momentos de esperança ainda existem aqui (Take your time and you’ll be fine/(…) It happened before, em Things Behind The Sun) e ali (And now we rise/ And we are everywhere/ And now we rise from the ground, em From The Morning) mas no geral este é um álbum para se ouvir ao crepúsculo, acompanhando a escuridão crescente entre as quatro paredes de um quarto que se atraem fazendo dele aquela prisão em que vivemos.

Pink Moon é de uma musicalidade incrível, reforçada pela intervenção do piano, e na voz de Nick nada indica o que vem a seguir.  Um tema verdadeiramente Pop.  Place to Be é o primeiro sinal do que aí vem quando 14 segundos depois da introdução da guitarra, surgem as primeiras palavras (When I was young, younger than before/ I never saw the truth hanging from the door/ And now I’m older see it face to face/ And now I’m older gotta get up, clean the place), e a toada se torna repetitivamente triste.  Road, com algo de música africana, algures do Niger ou do Mali, e o seu curto poema (influências da poesia Zen?) é, quanto a mim, o momento mais depressivo de todo o álbum, se excluirmos Horn, aonde a ausência de palavras (voz) apenas ajudam a dramatizar o ambiente construído, de certeza, a partir de uma melodia norte africana.  Wich Will é um poema de amor, de um amor feito de desilusão e impossibilidade (Which will you hope for?/ Which can it be?/ Which will you take now?/ If you won’t take me).  Things Behind The Sun, que encerra o lado A do disco, mesmo com os seus momentos de esperança é notoriamente triste.  Supostamente escrita algures em 1968 e sobre marijuana, foi preterida nos dois anteriores trabalhos, e repescada agora.  Um outro intérprete tê-la-ia escolhido para tema de abertura do lado B.  Nick optou antes por Know, aonde julgo descobrir o poema mais pessoal de todos os que podemos encontrar neste álbum.  Que melhor maneira há de percebermos o que lhe ia na alma do que ouvir a sua indiferença (Know that I love you/ Know I don’t care/ Know that I see you/ Know I’m not there)? A guitarra de Nick, aqui, chega a ser incomodativa na sua notória falta de afinação.  Parasite é uma preocupação com o que o mundo exterior pensa dele (Take a look you may see me on the ground/ For I am the parasite of this town/ And take a look you may see me in the dirt), algo de extraordinário em Drake.  Free Ride é demasiado pessoal (sobre uma amiga – provavelmente o que ele teve mais perto de ser uma namorada – Sophia Ryde) para a sentirmos como nossa mas é evidente que podemos descobrir nela algo de universal, como a futilidade (All of the pictures that you keep on the wall/ All of the people that will come to the ball).  Harvest Breed é o desespero da solidão (Falling fast and falling free/ You look to find a friend) e a hipótese da morte (This could just be the end).  E para terminar, Nick opta por From The Morning, a canção mais optimista de todo o álbum (And now we rise/ And we are everywhere/ And now we rise from the ground).
Conta a lenda que Nick terá pegado na bobine com a gravação e corrido para os escritórios da Island Records aonde a deixou na recepção aonde ela terá sido descoberta muito mais tarde, mas a verdade é que, de acordo com Trevor Dann, ele pedido na recepção para falar com Blackwell e este desceu para o receber, e depois de umas breves palavras de ocasião – recorda o patrão da Island – «I asked him what it had cost and he said 500 or so pounds so I gave him the money there and then.»(2)
Para a capa do disco foi contratado o fotógrafo Keith Morris que ainda chegou a fazer uma série de fotos mas que apresentavam um Nick impossível de fazer parte da capa de um disco.  Foi então escolhida uma pintura de Michael Trevithick, com a devida aprovação de Nick.
A 25 de Fevereiro de 1972, o álbum é posto à venda.  Um novo fracasso comercial e a imprensa especializada, praticamente o ignora...

“The album consists entirely of Nick's guitar, voice and
piano and features all the usual characteristics without ever
matching up to 'Bryter Layter'.  One has to accept that
 Nick's songs necessarily require further augmentation, for
 whilst his own accompaniments are good the songs are
 not sufficiently strong to stand up without any embroidery
 at all. 'Things Behind The Sun' makes it, so does
 'Parasite' – but maybe it's time Mr. Drake stopped acting
 so mysteriously and started getting something properly
 organised for himself." – J.G., Sounds, March 25, 1972;

His music is so personal and shyly presented both
 lyrically and in his confined guitar and piano playing
 that it neither does or doesn't come over. Drake is a fairly
 mesterious person, no-one appears to know where he
 lives, what he does – apart from writing songs – and
 there is not even a chance to see him on stage to get
 closer to his insides. In places he is a cult figure, and
 among the new younger sixth form and college audience
 there are pockets that go overboard to catch the latest
 glimmer of news that moves along the verbal news
 meanderings. The more you listen to Drake though, the
 more compelling his music becomes – but all the time it
 hides from you. (…) It could be that Nick Drake does
 not exist at all.” – MP, Melody Maker, May 1, 1972.


A 25 de Novembro de 1974, Nick Drake é encontrado morto na residência dos pais, pela sua mãe.  A autópsia indicará excesso de amitriptilina, um antidepressivo que lhe tinha sido receitado.
De então para cá, a sua popularidade tem vindo a crescer...

«Drake’s stance vis-à-vis the river-world is almost precisely
 analogous with the general sixties countercultural view of
 ‘straight’ society. The Buddhistic be here now formula for
 enlightenment was familiar to those in the counterculture
 who’d moved from psychedelic drugs to Eastern mystical
 systems. In this sense, Drake is very much a child of his time
– the essence of the late sixties spiritual revolt in its purest
 form – and he can’t be fully understood without seeing his
 work in historical context.» – Ian  MacDonald(1).

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(1) MacDonald, Ian. The People’s Music, 2003;
(2) Dann, Trevor. Darker Than the Deepest Sea: The Seach for Nick Drake. 2006;
(3) Humphries, Patrick. Nick Drake: The Biography. 1999.



Um excelente programa sobre Nick Drake (Remembering Nick Drake and his Music pode ser encontrado na página  City Arts & Lectures  da FORA.tv, Inc. (“FORA.tv”).

domingo, 19 de setembro de 2010

David Bowie (1967/1980) ~ Projecto de uma colectânea (Parte 2)


1975, Fevereiro
   Numa entrevista ao jornalista Bruno Stein, da revista Creem, Bowie não consegue esconder as paranóias provocadas pela sua dependência da cocaína: “Somehow to make a point about how humans are all manipulated, David bought up Hitler’s Germany and said that Hitler, too, was controlled. He wasn’t really the man in charge. (…) I said I don’t believe that he was the dictatorial, omnipotent leader that he’s been taken for.”;

1975, 7 de Março
   Sai Young Americans.  Bowie reencarna decididamente em Thin White Duke, o chulo branco imaginando-se num Harlem de plástico, gingando com um ar indiferente e frio ao som da Philadelphia Soul, e que reúne energias graças a uma dieta feita de pimentos, leite, e muita cocaína.  Pela primeira vez, Bowie consegue um #1 nas tabelas dos EUA, com Fame, tema escrito em parceria com John Lennon e o seu guitarrista, Carlos Alomar.  O álbum um #2 no RU e um #9 nos EUA.  Singles extraídos: Young Americans/Suffragette City, em 21 de Fevereiro de 1975, e Fame/Right, em 18 de Agosto de 1975;
     Destaques: Young Americans [Bowie rende-se definitivamente aos EUA adoptando o som negro da Plastic Soul, e analisando uma série de tópicos da história daquele país, desde o segregacionismo racial recorrendo ao episódio Rose Parks (All the way from Washington/Her bread-winner begs off the bathroom floor/We live for just these twenty years/Do we have to die for the fifty more?) a acontecimentos, então, mais recentes como o escândalo do Watergate que tinha acabado de ser revelado dois dias antes da gravação (Do you remember, your President Nixon?/Do you remember, the bills you have to pay?/Or even yesterday?/Have been the un-American?)] ~ Right [Um tema lento com Bowie a tentar ser James Brown.  Mantêm-se em destaque os coros e o sax, numa canção em que até a letra é pastilha elástica] ~ Fame [Um tema sério (Fame, it’s not your brain, it’s just the flame/That burns your change to keep you insane) que Bowie atribui ao resultado de longas conversas com John Lennon, sob um fundo vincadamente Funk erguido a partir de um riff do guitarrista da banda, Carlos Alomar, e que exige ao corpo o mesmo, ou mais, que exige ao cérebro – “Once you’ve heard it, it sticks with you and while you listen to it, it’s really quite difficult to stay still.” – Comentava Jon Landau para a Rolling Stone de 22 de Maio.  James Brown irá basear-se nela para compôr a sua canção Hot (I Need To Be Loved, Loved, Loved, Loved).  Fame irá atingir, como não podia deixar de ser, o #1 nos EUA] ;

1976, 23 de Janeiro
   Sai Station To Station, o álbum que fará a transição para o período Berlim, e que Bowie descreve como “a plea to come back to Europe for me”, aonde até nos temas mais Funk se pode sentir o frio metálico do que estava para vir – o Thin White Duke torna-se mais insensível e cerebral, voltando às velhas preocupações de Bowie com Nietzsche, Aleister Crowley, e mitologias mais ou menos ligadas ao nazismo.  Atingiu um #3 nas tabelas dos EUA e um #5 nas do RU.  – “It’s a much better album than we’d been led to believe Bowie was willing to make, but while there’s little doubt about his skill, one wonders how long he’ll continue wrestling with rock at all.” – Teri Moris, a 25 de Março de 1976, para a Rolling Stone.  Singles extraídos: Golden Years/Can You Hear Me, em 17 de Novembro de 1975, TVC15/We Are the Dead, em 30 de Abril de 1976, e Stay/Word on a Wing, em Julho de 1976;
     Destaques: Station To Station [Embora o Funk ainda esteja presente, trata-se de uma das canções mais experimentais de Bowie, e claramente composta por duas canções de estilos diferentes.  Em termos de letra, Bowie regressa a velhas obsessões como a religião – embora comece com o som de um comboio, as estações do título referem-se ao calvário de Cristo (“By the way, the title derives from the Stations of the Cross and not the railway system.” – Bowie à revista UNCUT, em 1999), e depois há as referências à Cabala (Here are we/One magical movement/from Kether to Malkuth) – e ao ocultismo, indo buscar o título de um livro de Aleister Crowley, White Stains (The return of the Thin White Duke/making sure white stains).  Notável é também o momento de lucidez sobre a sua dependência à cocaína (It’s not the side-effects of the cocaine)] ~ Golden Years [Lançada como single de promoção ao álbum, terá induzido muitos compradores no erro de pensarem que o álbum seguiria o rumo musical traçado por Young Americans.  Composta por Bowie tentando recriar um ambiente nostálgico, viria a ser reclamada por Angie como uma canção feita para ela, embora Bowie sempre tenha afirmado que a teria escrito para Elvis Presley e que este a recusara. Lançada em single numa versão mais curta, atingiu o #8 nas tabelas do RU e o #10 nas dos EUA.] ~ Wild Is the Wind [Escrita pela dupla Dimitri Tiompkin/Ned Washington, é pela interpretação de Nina Simone que Bowie é inspirado a fazer esta cover.  Considerada uma das grandes vocalizações de Bowie.] ;

1976, Fevereiro
   I think I might have been a bloody good Hitler. I'd be an excellent dictator. Very eccentric and quite mad.” – Bowie em entrevista a Cameron Crowe da Rolling Stone;

1976, 3 de Fevereiro
   Pela primeira vez, num concerto em Seattle, Bowie apresenta a sua nova reencarnação como Thin White Duke;

1976, 2 de Abril
   Ao atravessar a fronteira entre a URSS e a Polónia é detido por trazer consigo livros ligados ao nazismo;

1976, 23 de Abril
   Nos EUA, os Ramones editam o seu primeiro álbum, Ramones, sendo considerado um dos primeiros álbuns de Punk Rock;

1976, 26 de Abril
   Após um concerto em Estocolmo, Suécia, Bowie declara a um jornalista sueco que “As I see it I am the only alternative for the premier in England. I believe Britain could benefit from a fascist leader. After all, fascism is really nationalism.”;

1976, 2 de Maio
   Bowie chega à Victoria Station, em Londres, após 2 anos de ausência e saúda os presentes com uma saudação nazi;

1976, 9 de Maio
   Estreia o filme de Nicholas Roeg, The Man Who Fell to Earth, em que Bowie interpreta o papel de um extraterrestre;

1976, Julho
   Iggy Pop começa a gravar o seu trabalho The Idiot, em colaboração estreita com David Bowie que é co-autor e produtor de todas as canções do álbum;

1976, Outubro
   Bowie muda-se para Berlim, Alemanha.  Aluga um apartamento na zona em que os imigrantes turcos se concentram e leva uma vida pacata, querendo esquecer o período louco que viveu nos EUA;

1976, 26 de Novembro
   No RU, os Sex Pistols editam o seu primeiro trabalho, o single Anarchy in the UK;

1977, 14 de Janeiro
   Low, o primeiro álbum da trilogia conhecida por “Berlin Trilogy” é posto à venda.  O título, segundo o produtor Tony Visconti, tinha a ver com o estado de espírito de Bowie à época.  Dividido em duas partes, sendo a primeira composta por canções curtas e a segunda pelas mais longas, é notória a influência de Brian Eno nestas últimas, em especial em Warszawa que é de sua autoria, e do som de bandas germânicas como os Kraftwerk ou os Neu!.  A capa, usando uma fotografia do perfil de Bowie, retirada do filme de Roeg, The Man Who Fell to Earth, foi criada a pensar no efeito que transmitia: low profile.  Viria a atingir o #2 nas tabelas britânicas e o #11 nas dos EUA.  Singles extraídos: Sound And Vision/A New Career in a New Town, em 11 de Fevereiro de 1977, e Be My Wife/Speed of Life, em 17 de Junho de 1977;
     Destaques: Speed of Life [Um instrumental, caso nunca antes visto na carreira de Bowie, a dar o arranque com todo o seu sintético ritmo germânico mostrando um Bowie surpreendentemente renovador e cativante.  Aparentemente terá tentado compor uma letra para esta canção mas perante o resultado acabou por desistir] ~ Breaking Glass [Uma letra muito intima (Baby, I’ve been/breaking glass/In your room again) mas suficientemente simples e misteriosa para captar a atenção auditiva, sob um som neurótico, com algo de Funk.  Segundo Bowie, o que ele desenhava na carpete (Don’t look at the carpet/I drew something awful on it) era a chamada Árvore da Vida, mencionada na Cabala] ~ Sound And Vision [Escolhida para ser o primeiro single do álbum, embora a contragosto da RCA que advinhava um fracasso comercial, viria a ser seleccionada pela BBC para pano musical de fundo nos seus anúncios de programação, o que a projectaria comercialmente ao ponto de no RU ter atingido o #3 das tabelas, enquanto nos EUA se quedaria pelo #69.  Aparentemente, a letra da canção é sobre a sua existência em Los Angeles mas suficientemente ambígua para se poder julgar actualizada à sua existência em Berlim.  O facto mais surpreendente nesta canção continua a ser a extensão da sua introdução, com Bowie a cantar o primeiro verso apenas a metade da duração da mesma, e a sua extensão que por isso, parece mais pequena do que é.] ~ Always Crashing In The Same Car [A inevitabilidade de se cometer o mesmo erro como tema (provavelmente analisando a sua dependência da cocaína) sob um fundo musical minimalista mas denso e experimental.  Aparentemente, Bowie teria escrito um terceiro verso (o produtor Tony Visconti, numa entrevista dada à revista UNCUT, em 1999, relembra: “I remember David wrote a third verse to Always Crashing In The Same Car and sang it in the style of Bob Dylan. It was done half in jest, but we were a little freaked because Dylan had just been in that motorcycle accident and this seemed like bad taste, I guess. David asked me to erase it and I did.”) ] ~ Warszawa [Segundo Bowie, esta canção resulta das impressões sentidas durante uma visita àquela cidade (“Warszawa is about Warsaw and the very bleak atmosphere I got from the city.” – Bowie numa entrevista a Tim Lott, para o Record Mirror em Setembro de 1977).  As 110 vozes ouvidas na canção limitam-se a uma, a de Bowie, sobreposta “n” vezes.  A música terá sido composta por Brian Eno durante uma ausência de Bowie em Paris, e este apenas teria dado algumas sugestões e a letra que, supostamente, será uma “reinterpretação” sonora de um tema vocal folclórico polaco.];

1977, Abril
   Nova colaboração com Iggy Pop, para o álbum Lust For Life;

1977, 16 de Setembro
   Nos EUA, os Talking Heads lançam o seu primeiro LP: 77;

1977, 14 de Outubro
   A segunda peça da “Berlin Trilogy”, “Heroes” sai a público.  Bowie e Eno aprofundam a abordagem musical iniciada em Low (“It's louder and harder and played with more energy in a way.” – Bowie numa entrevista dada à revista UNCUT, em 1999) e a presença do guitarrista Robert Fripp, ex-King Crimson, ter-lhe-á dado outro valor.  Trata-se de um álbum muito mais europeu, via Berlim, no sentido de que em termos musicais é mais claro sobre as suas influências (o chamado Krautrock – o rock alemão, essencialmente electrónico e com larga influência do Jazz europeu, minimalista e experimentalista) e de que as suas letras têm a ver com o ambiente vivido naquela cidade citiada e palco diário da chamada Guerra Fria.  Conseguiu um #3 nas tabelas britânicas e um #35 nas dos EUA.  Singles extraídos: “Heroes”/V-2 Schneider, em 14 de Outubro de 1977, e Beauty and the Beast/Sense of Doubt, em 6 de Janeiro de 1978;
     Destaques: “Heroes” [Uma narrativa brilhantemente lírica de dois jovens berlinenses que se encontram junto ao Muro, chamado de, da vergonha (I, I can remember (I remember)/Standing, by the wall (by the wall)/And the guns, shot above our heads (over our heads)/And we kissed, as though nothing could fall (nothing could fall)/And the shame, was on the other side) sem a necessidade de um futuro (We can be Heroes, just for one day) ou de grandes compromissos (We're nothing, and nothing will help us).  O título da canção é uma homenagem de Bowie à banda alemã Neu! que, em 1975, lançara uma música com o título de Hero, e a sua inspiração nasceu de Bowie ter visto o produtor Tony Visconti a beijar uma das vocalistas do coro, Antonia Maass, junto ao Muro.  Uma das técnicas usadas por Visconti para captar a voz de Bowie foi a do recurso a três microfones situados a diferentes distâncias que eram abertos conforme a evolução das vocalizações.  Lançada como single atingiu o #24 nas tabelas britânicas.] ~ Sons of the Silent Age [Dada provisoriamente como a canção-título do álbum, é sem dúvida alguma a segunda grande obra-prima do álbum quer pela sua letra que, com a de “Heroes”, nos dá uma imagem quase alienante (Sons of the silent age/Make love only once but dream and dream/They don't walk, they just glide in and out of life/They never die, they just go to sleep one day) desse espaço urbano que era Berlim, quer pela sua banda sonora dirigida por um saxofone feito lamento e pela interpretação cheia de paixão do vocalista Bowie.] ~ V-2 Schneider [Um instrumental que deve o seu título ao V-2 rocket, e a Florian Schneider, um dos membros-fundadores dos Kraftwerk, e bem claro nas suas influências kraftwerkianas.  David Buckley, no seu livro Strange Fascination - David Bowie: The Definitive Story, descreve-a como “One can almost see the Nazis parading past the control room of the Hansa Studios as the music – insistent, militaristic – tumbles out of the speakers.”] ;

1978, 7 de Janeiro
   Numa entrevista dada a Chris Brazier, do Melody Maker, Amanda Lear, um suposto transsexual e, entre outras coisas, ex-amante de Salvador Dali, modelo, cantora de Discosound, etc, para além de namorada de Bowie, diz que “With David it was great because it was a kind of symbiosis, an exchange, it wasn't just take, take, take. I introduced him to Germany, to expressionism and to Fritz Lang. I told him about Dali and he used Un Chien Andalou on his tour. Before I met him I was reading Tolkien and Herman Hesse, now I read Machiavelli.”;

1979, Fevereiro
   Estreia em Londres do filme Just a Gigolo, de David Hemmings, com a presença de Bowie em kimono;

1979, 18 de Maio
   Lodger, o último trabalho da “Berlin Trilogy” sai.  Sendo o mais acessível da trilogia, não deixa de ser um disco cheio de boas canções.  Muitos críticos musicais descobririam nele uma orientação mais Pop, isto é, menos arrojada, a que não seria alheia a falta de motivação entre Bowie e Eno (o guitarrista Adrian Belew: “They didn’t quarrel or anything uncivilised like that; they just didn’t seem to have the spark that I imagine they might have had during the “Heroes” album.”).  Recebendo inicialmente o título de Planned Accidents, numa fase posterior passou a chamar-se de Despite Straight Lines, acabando por se fixar em Lodger, viria a ser basicamente dividido em duas partes, sendo a primeira relacionada com viagens e a segunda, com criticas sociais.  Atingiria o #4 nas tabelas britânicas e o #20 nas dos EUA.  Singles extraídos: Boys Keep Swinging/Fantastic Voyage, em 27 de Abril de 1979, e DJ/Repetition, em 29 de Junho de 1979;
     Destaques: Fantastic Voyage [Primeira canção do LP e cujo tema é a ameaça nuclear (It’s a very modern world, but nobody’s perfect/It’s a moving world, but that’s no reason/To shoot some of those missiles/Think of us as fatherless scum) e criada propositadamente com uma estrutura em tudo semelhante à Boys Keep Swinging (o produtor Tony Visconti, numa entrevista dada em 2001 à revista UNCUT: “Fantastic Voyage and Boys Keep Swinging are the same song harmonically and structurally, as well as a third track that was never used.”).] ~ Yassassin (Turkish for Long Live) [Um Reggae com sabor turco (Visconti em 2001: “Yassisin was a deliberate attempt to make a hybrid form of music - Reggae/Turkish”) com uma letra em que provavelmente reflecte sobre o que assistiu enquanto viveu no bairro turco de Berlim (We came from the farmlands/To live in this city/We walked proud and lustful/In this resonant world/You want to fight/But I don't want to leave/Or drift away).  Single lançado apenas nos mercados holandês e turco] ~ DJ [Observações cínicas sobre o culto dos DeeJay (One more weekend of lights/and evening faces/Fast food, living nostalgia).  Em termos de música, são notórias as influências ritmícas e de vocalização dos Talking Heads.  O solo do guitarrista Adrian Belew foi registado em várias gravações e misturadas posteriormente numa só.  O single atingiu o #29 nas tabelas britânicas.] ~ Red Money [Embora composta por Bowie e Alomar, terá sido Iggy Pop o primeiro a disponibilizar esta canção no seu álbum de 1977, The Idiot, mas com outra letra e sob o título Sister Midnight.  De novo a ameaça nuclear (Project cancelled/Tumbling central/Red Money)];

1980, 3 de Fevereiro
   Decretado o divórcio de Bowie com Angie;

1980, 29 de Maio
   Estreia da peça The Elephant Man no Denver Centre of Performing Arts, com Bowie no papel de John Merrick.  No dia 23 de Setembro estreia finalmente na Broadway;

1980, 12 de Setembro
   Scary Monsters (and Super Creeps) é disponibilizado ao público pela RCA sob o título de promoção “Often Copied, Never Equalled”.  Apontado como um natural sucessor dos trabalhos englobados na “Berlin Trilogy” (“Scary Monsters is never mentioned as being part of the three albums, but I think it is the crowning glory of what we had learned from making the Triptych. Even though Brian wasn't with us on that one you can feel his influence.” – Tony Visconti, à revista UNCUT), em que contou com a colaboração criativa de Eno, é sem dúvida alguma um álbum virado para o mercado com canções menos experimentais, melodicamente mais acessíveis mas enriquecidas com letras cuidadas. (“Scary Monsters is, in fact, a lamenting look at the renascent barbarism that Bowie sees engulfing the supposedly modern world.  - Kurt Loder, na revista Rolling Stone, de 13 de November de 1980) Atingiu o #1 nas tabelas britânicas e o #12 nas dos EUA.  Singles extraídos: Ashes to Ashes/Move On, em 1 de Agosto de 1980, Fashion/Scream Like a Baby, em 24 de Outubro de 1980, Scary Monsters (and Super Creeps)/Because You’re Young, em 2 de Janeiro de 1981, e Up the Hill Backwards/Crystal Japan, em Março de 1981;
     Destaques: It's No Game, Pt.1/P2 [Como de costume, mais um começo soberbo.  Michi Hirota encarrega-se da versão japonesa (“Also, repeating me parrot fashion but in Japanese is a young Japanese girl friend of mine who says the lyric in such a way as to give the lie to the whole very sexist idea of how Japanese girls are so very prim. She’s like a Samurai the way she hammers it out. It’s no longer the little Geisha girl kind of thing, which really pisses me off because they’re just not like that at all.” – Bowie, em entrevista ao jornalista Angus MacKinnon, para o New Musical Express de Setembro de 1980), na Pt.1, sendo seguida por um Bowie que berra estridente a versão inglesa e que, na Pt.2, ao fechar o álbum e sem a versão japonesa, é muito mais melódico, como se vencido (So where’s the moral/when people have their fingers broken/To be insulted by these fascists/it’s so degrading/And it’s no game)  ] ~ Scary Monsters (and Super Creeps) [Com uma notável guitarra vadiando (Robert Fripp: “On the song Scary Monsters, there’s a guitar break in which I play over the chords for the middle instead of for the chorus. In other words, instead of playing over the E and the D, I was playing over a D and a B - Bowie’s initials. Even more subtle.”) no fundo da interpretação – vocalização cockney e artificialmente tremida – de Bowie de uma letra cujo tema é a alienação mental de uma rapariga (She could've been a killer/if she didn't walk the way she do/and she do/She opened strange doors/that we'd never close again), a canção-título acabaria por atingir o #20 das tabelas inglesas.] ~ Ashes To Ashes [Canção lançada para promoção do LP com uma antecedência de mais de um mês, e por ela ficámos a saber aquilo que já há muito desconfiávamos: que o Major Tom de Space Oddity era apenas um drogado (We know Major Tom’s a junkie) mas que estava com saudades de casa (Want an axe to break the ice/Wanna come down right now).  Uma interpretação vocal cheia de nuances por parte do Major Tom, reforçada pelo trabalho de produção a cargo do (quase) eterno Tony Visconti que consegue criar uns coros vindos do espaço em forma de rumores] ~ Fashion [Um Funk em que a guitarra de Fripp vai enriquecendo o ritmo estabelecido pelo baixo de George Murray, para uma letra em que Bowie analisa cinicamente a cegueira com que se seguem as modas, supostamente nesta canção, a moda New Romantic (We are the goon squad and we're coming to town) dando-os como robots (Beep-beep/Beep-beep) e sem vontade própria (Fashion! Turn to the left/Fashion! Turn to the right)] ;

sábado, 18 de setembro de 2010

David Bowie (1967/1980) ~ Projecto de uma colectânea (Parte 1)



1947, 8 de Janeiro
   Nasce em Brixton, Londres, com o nome de David Robert Jones;

1962
   Em resultado de uma luta com um amigo, George Underwood, o seu olho esquerdo é danificado.  Nesse mesmo ano, forma o seu primeiro grupo de rock, os Konrads;

1964, 5 de Junho
   Sai o primeiro single de Bowie, Liza Jane/Louie Louie Go Home, na etiqueta Vocalion Pop, sob o nome de Davie Jones & The King-Bees;

1965, 16 de Setembro
   Devido à existência de um David Jones, o do então muito popular grupo The Monkees, adopta o nome de Bowie recorrendo ao herói de Álamo, Jim Bowie;

1967, 14 de Abril
   Sai sem sucesso o single The Laughing Gnome/The Gospel According To Tony Day, através da Deram, uma das subsidiárias da Decca Records.  Reeditado em 1973, atingirá o 6.º lugar nas tabelas britânicas;

1967, 1 de Junho
   Ainda na Deram, Bowie lança o seu primeiro LP, com o título de David Bowie, que passa despercebido;

1967, 29 de Dezembro
   Lindsay Kemp apresenta o seu novo espectáculo de mímica no Playhouse, de Londres, Pierrot in Turquoise, em que Bowie canta algumas das suas canções compostas especialmente para Kemp, em troca de aulas de mímica;

1969, 4 de Maio
   Bowie e Mary Finnigan, com quem vivia na altura, iniciam o Folk Club, no Three Tuns Public House, na Beckenham High Street, sul de Londres.  A 25 de Maio deixam cair o nome de Folk Club e adoptam o de The Arts Lab;

1969, 4 de Novembro
   Através da Philips, sai o segundo LP de Bowie, originalmente com o título de David Bowie que, mais tarde, em 1972, reeditado pela RCA viria a ter o título de Space Oddity.  The lyrics are full of the grandeur of yesterday, the immediacy of today and the futility of tomorrow.” – Music Now!, November 1969;
     Destaques: Space Oddity [Single supostamente lançado para coincidir com a chegada da Apollo XI à Lua, viria a ser o tema-chave para a cobertura pela BBC da viagem daquela Apollo.  Inspirada no filme 2001: A Space Odyssey, de Stanley Kubrick (Bowie: “I went stoned out of my mind to see the movie”), muitos viram nela a narração de uma “viagem” com heroína, sendo o Major Tom o junkie que se sente “perdido no espaço” (I’m stepping through the door/And I’m floating/in a most peculiar way/And the stars look very different today)] ~ Janine [Talvez a canção mais forte do LP e, sem dúvida, a que mais indicações dá de temas que farão de Bowie um dos importantes no rock... histórias de amores complexos vividos por personagens com dupla-personalidade (Janine, Janine, you’d like to crash my walls/But if you take an axe to me/You’ll kill another man/Not me at all)] ~ God Knows I’m Good [(God knows I’m good/Surely God won’t look/the other way)];

1970, 16 de Fevereiro
   O guitarrista Mick Ronson, junta-se aos Hype de Bowie;

1970, 20 de Março
   Bowie casa com Angie ;

1970, 24 de Outubro
   No RU sai o single Ride a White Swan, dos T. Rex, que viria a ser considerada a primeira canção Glam (de glamour) Rock;

1970, 4 de Novembro
   Editado nos EUA, por intermédio da Mercury Records, o álbum The Man Who Sold The World.  No RU só viria a sair em Abril de 1971.  Segundo os críticos Roy Carr e Charles Shaar Murray, do New Musical Express, “this is where the story really starts”.  A capa escolhida por Bowie, a que aparece na edição britânica, na qual aparece deitado num divã trajando um vestido, viria a ser substituída nos EUA por uma outra em que aparece um desenho, tipo cartoon, do Cane Hill Mental Asylum.  Bowie sobre o álbum numa entrevista dada a Cameron Crowe, para o Playboy, de Setembro de 1976: “Well, The Man Who Sold The World is actually the most drug-oriented album I've made.” Reeditado em 1972, a 25 de Novembro, atingiria um #26 no RU e um #105 nos EUA.  Singles extraídos: All The Madmen, apenas nos EUA, e como single de promoção;
     Destaques: All The Madmen [Escrita acerca do/para o seu meio-irmão, Terry, um esquizofrénico que ficaria internado em Cane Hill (Zane, Zane, Zane Ouvre le Chien) até ao seu suicídio em 1985] ~ The Man Who Sold The World [Inspirada pelo poema Antigonish, de William Hughes Mearns, retoma o tema da dupla-personalidade (Who knows? Not me/We never lost control/You’re face to face/With the Man who Sold the World)] ~ The Supermen [Influenciada pelas obras de Friedrich Nietzsche (Bowie: “I was still going through the thing when I was pretending that I understood Nietzsche... And I had tried to translate it into my own terms to understand it so ‘Supermen’ came out of that.”) e com notórias referências a Also Sprach Zarathustra, de Richard Strauss, no que toca ao destaque dado à batida de tímpano e aos coros.  O riff de guitarra terá sido dada a Bowie por Jimmy Page. (Nightmare dreams no mortal mind could hold/A man would tear his brother’s flesh, a chance to die/To turn to mold)];

1971, 27 de Janeiro
   Primeira visita de Bowie aos EUA;

1971, 17 de Dezembro
   Editado o álbum Hunky Dory, sob a etiqueta RCA Records, com quem tinha assinado contrato em 9 de Setembro e aonde ficará por uma década.  Tentando reinventar-se, abandona o som duro do trabalho anterior e procura novas sonoridades menos pesadas.  Primeiro trabalho aonde aparecem todos os membros do grupo Spiders From Mars.  Em 1972, depois da saída de Ziggy Stardust, atingirá o #2 nas tabelas do RU.  Hunky Dory not only represents Bowie’s most engaging album musically, but also finds him once more writing literally enough to let the listener examine his ideas comfortably” – Rolling Stone, 6 de Janeiro de 1972.  Singles extraídos: Changes/Andy Warhol, em 7 de Janeiro de 1972, e Life On Mars?/The Man Who Sold The World, em 22 de Junho de 1973;
     Destaques: Changes [Vista por muitos como uma espécie de desafio ao tema My Generation, dos The Who (aonde estes cantavam “my g-g-g-generation”, Bowie canta “Ch-ch-ch-ch-Changes”), e à substituição da velha geração (Oh, look out you rock ‘n rollers), Bowie dá-a apenas como “started out as a parody of a nightclub song”.] ~ Oh! You Pretty Things [A ambiguidade sexual (Oh You Pretty Things/Don’t you know you’re driving your/Mamas and Papas insane) ligada ao conceito nietzschiano do homem superior (You gotta make way/for the Homo Superior), com uma pitada de ficção científica (Look out my window and what do I see/A crack in the sky/and a hand reaching down to me), sob um fundo musical simples mas eficiente, aonde se destaca o piano de Rick Wakeman e os coros da banda.] ~ Life On Mars? [Um perfeito arranjo musical dramático para uma letra feita de versos-observações aparentemente sem sentido, sobre uma série de pequeninas coisas que lhe exigiram atenção (That Mickey Mouse has grown up a cow).] ~ Andy Warhol [Uma de três canções do LP em que Bowie presta homenagem a alguns dos seus inspiradores – sendo as outras, Song For Bob Dylan e Queen Bitch (Andy Warhol looks a scream/Hang him on my wall/Andy Warhol, Silver Screen/Can't tell them apart at all).  Completamente acústica, da canção transpira algo de exótico.] ~ Queen Bitch [A ligação aos Velvet Underground já vinha desde 1967, ano em que o seu manager de então, lhe deu uma cópia do primeiro trabalho da banda, tendo inclusivé gravado uma cover de I’m Waiting for the Man, uma canção daquela banda. Muitos vêem nesta canção o modelo usado para o desenvolvimento do estilo musical que viria a ser rotulado de Glam Rock.];

1972, 22 de Janeiro
   O Melody Maker, publica a “revelação” de Bowie ao jornalista Michael Watts de que é homosexual: “I’m gay, and always have been, even when I was David Jones.”;

1972, 11 de Fevereiro
   Num concerto em Tollworth, Inglaterra, Bowie encarna pela primeira vez a personagem  de Ziggy Stardust;

1972, 6 de Junho
   É editado no RU o LP The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, mais conhecido por Ziggy Stardust.  Nos EUA é posto à venda a 1 de Setembro.  Em pouco tempo atinge o #5 e o #75 nas tabelas, respectivamente, do RU e dos EUA.  Trata-se de um trabalho em torno de uma personagem tornada rock star, Ziggy Stardust. Bowie numa entrevista à Rolling Stone, em 1973: “It has been announced that the world will end because of lack of natural resources.  Ziggy is in a position where all the kids have access to things that they thought they wanted.  The older people have lost all touch with reality and the kids are left on their own to plunder anything.  Ziggy was in a rock n roll band and the kids no longer want rock n roll.   There’s no electricity to play it.  Ziggy’s advisors tells him to collect news and sing it, cause there is no news.  So Ziggy does this and there is terrible news.”.  O nome de Ziggy Stardust vem da junção do único nome que ele conhecia começado por Z e o do The Legendary Stardust Cowboy, um cantor de música Country.  Por mera coincidência, ou não, um dos cantores que ele mais admirava, para além de Lou Reed, era Iggy Pop, dos The Stooges.  Singles extraídos: Starman/Suffragette City, em 14 de Abril de 1972, e Rock ‘n’ Roll Suicide/Quicksand, em 11 de Abril de 1974;
     Destaques: Five Years [A perfeita introdução para a história a contar, desde o rufar inicial da bateria ao seu conteúdo lírico no que toca a transmitir imagens de um mundo com apenas 5 anos à sua frente (News had just come over/we had five years left to cry in/News guy wept and told us/earth was really dying).  Uma interpretação vocal limpa e potente por parte de Bowie – a linha “I never thought I’d need so many people” é um exemplo único das suas capacidades vocais.  Segundo Bowie, anos mais tarde, o número de 5 anos surgiu-lhe de um sonho em que o seu pai lhe anunciou que só viveria esse período de tempo e lhe terá pedido para nunca andar de avião, no entanto sempre se pôs outras hipóteses como a de que lhe faltariam 5 anos para atingir os 30 anos de idade, ou o período do contrato que o ligava à RCA.] ~ Starman [Ziggy anuncia a “boa nova” (There’s a starman waiting in the sky/He’s told us not to blow it/Cause he knows it’s all worthwhile).  Esta canção veio substituir uma programada cover de Around and Around, de Chuck Berry, por imposição de Dennis Katz, o representante da RCA.  Os coros do refrão são influenciados pelos da interpretação de Judy Garland, na canção Somewhere Over The Rainbow do filme The Wizard Of Oz.  Lançada como single do álbum, atingiria o #10 no RU, aonde se manteve por 11 semanas] ~ Ziggy Stardust [Ziggy, que segundo Bowie é um personagem vagamente baseado em Vince Taylor, um rock’n’roller dos anos 50’s (“Yeah. He was the inspiration for Ziggy. Vince Taylor was an American rock & roll star from the Sixties who was slowly going crazy. Finally, he fired his band and went onstage one night in a white sheet. He told the audience to rejoice, that he was Jesus. They put him away” – em entrevista a Cameron Crowe, da revista Rolling Stone, em Fevereiro de 1976), assume o seu papel de mensageiro e torna-se numa estrela de rock.  Os Wierd e Gilly da letra, são o baixista Trevor Bolder e o baterista Woody Woodmansey, dos Spiders.  Inúmeras referências a Jimi Hendrix aparecem ao longo da letra (He played it left hand, but made it too far), (screwed down hairdo) ou (jiving us that we were Voodoo), e a actuais e futuras personagens que ele irá adoptar (screwed up eyes), (snow-white tan) e (Like some cat from Japan)] ~ Suffragette City [Canção oferecida por Bowie aos Mott The Hoople que a recusaram em favor de All The Young Dudes, e uma das favoritas de sempre nas actuações ao vivo de Bowie – no período Ziggy, era a que servia de pretexto para o encenado fellatio com a guitarra de Mick Ronson.  Nela pode-se rever a influência do som dos Velvet Underground, já patente em Queen Bitch do álbum Hunky Dory.  Ao longo da canção aparecem referências ao filme de Stanley Kubrick, A Clockwork Orange (droogie don’t crash here), a Charles Mingus ou aos The Small Faces (Ohhh, Wham Bam Thank You Ma’am!), e aos Velvet Underground (Hey man) e (Here she comes).  O termo suffragette é usado como uma espécie de pejorativo de suffragist.] ~ Rock ‘n’ Roll Suicide [Segundo Bowie, os versos iniciais da canção (Time takes a cigarette, puts it in your mouth) tiveram origem, umas vezes, num poema de Charles Baudelaire, noutras, num de Manuel Machado.  Interpretada ao estilo da chanson francaise, sob a influência de Jacques Brel (a quem roubaria o verso Oh no, love, you’re not alone), marca o fim de Ziggy enquanto estrela Sobre ele, Bowie: “At this point I had a passion for the idea of a rock star as meteor and the whole idea of The Who’s line Hope I die before I get old. At that youthful age you cannot believe that you’ll lose the ability to be this enthusiastic and all-knowing about the world, life and experience.  You think you’ve probably discovered all the secrets to life.  Rock n Roll Suicide was a declaration of the end of the effect of being young.”];

1972, 28 de Julho
   O single All The Young Dudes, dos Mott the Hoople é posto à venda.  Composto e produzido por Bowie, conta ainda com a sua participação no saxofone.  Consta que tê-la-á escrito de imediato e perante o vocalista dos Mott, Ian Hunter, após este ter recusado a oferta de Suffragette City.  A generosidade de Bowie deve-se a ele ter descoberto que a banda iria acabar por falta de dinheiro;

1972, Agosto
   Bowie produz o álbum de Lou Reed, Transformer, dando também uma mãozinha nos coros;

1973, 13 de Abril
   Sai Aladdin Sane.  Gravado nos intervalos que as actuações das digressões de Ziggy Stardust permitiam – para muitos críticos musicais, o álbum ressentiu dessa “pressa”.  Embora, aparentemente, Ziggy tivesse sido enterrado, Bowie clarifica então que Aladdin Sane é apenas o “Ziggy goes to America” – a maioria de canções teriam sido compostas durante a sua estadia nos EUA e, notoriamente, traduzem essa experiência (“Aladdin Sane’ was a result of my paranoia with America at the time.” – Bowie a Robert Hilburn, do New Musical Express, em Novembro de 1974).  Com uma pré-ordem de 100 mil exemplares, o LP atingiria em pouco tempo o #1 da tabela britânica, e um #17 nos EUA.  Singles extraídos: The Jean Genie/Ziggy Stardust, em 24 de Novembro de 1972, e Drive-In Saturday/Round and Round, em 6 de Abril de 1973;
     Destaques: Watch That Man [Definitivamente influenciado pelo som dos Rolling Stones, via Exile On Main Street, (Ken Scott, o produtor: “’Watch That Man’ was very much a Stones-sounding thing, with the vocal used as an instrument rather than as a lead.”) com uma série de imagens retidas da digressão norte-americana (Shakey threw a party/that lasted all night/Everybody drank a lot of something nice)] ~ Aladdin Sane (1913-1938-197~) [Escrita durante a viagem de barco de regresso ao RU, em Dezembro de 1972, e inspirada pelo livro de Evelyn Waugh, Vile Bodies (Battle cries and champagne just in time for sunrise/Who’ll love Aladdin Sane).  Bowie terá deixado cair o título inicial, Love Aladdin Vein, devido às conotações com a droga.  O título escolhido acabaria por o ser por causa da possibilidade do jogo com as palavras: Aladdin Sane ou A Lad Insane.  Os anos entre parêntesis referem-se aos dos imediatamente antes do início das duas grandes guerras mundiais, sendo o último, o previsível para início da terceira.  Notoriamente tida por uma das grandes músicas de Bowie devido ao seu carácter experimental – o piano de Mike Garson é todo ele jazz avant-garde] ~ Panic in Detroit [Inspirada em várias histórias contadas por Iggy Pop sobre os revolucionários de Michigan (He looked a lot like Che Guevara,/drove a diesel van/Kept his gun in quiet seclusion,/such a humble man/The only survivor of the National People’s Gang) e com um ritmo a la Bo Diddley Beat com uma pitada latino-americana.  Ben Gerson, na edição de 19 de Julho de 1973, da revista Rolling Stone, descreve-a como “a paranoid descendant of the Motor City’s earlier masterpiece, Martha and the Vandellas’ Nowhere to Run.”] ~ Time [Um fundo musical apropriado para o tema em questão – o burlesco do cabaret para um assunto eterno (Time/He’s waiting in the wings/He speaks of senseless things/His script is you and me boys).  Banida da BBC por conteúdo chocante (He flexes like a whore/Falls wanking to the floor)];

1973, 21 de Abril
   Termina a sua digressão mundial no Japão. Dias depois apanha o Trans-Siberian Express e visita Moscovo.  Esta visita será marcante na composição do álbum Diamond Dogs;

1973, 3 de Junho
   Num concerto no Hammersmith Odeon, Bowie anuncia o fim de Ziggy: “Of all the shows on the tour, this one will stay with us the longest because not only is this the last show of the tour, but it is the last show we will ever do.”;

1973, 19 de Outubro
   Sai o álbum Pin Ups, aonde Bowie reinterpreta temas dos anos 60s, de vários grupos de R’n’B (Bowie em Julho de 1973: “These are all songs which really meant a lot to me then – they’re all very dear to me. These are all bands which I used to go and hear play down The Marquee between 1964 and 1967. Each one meant something to me at the time. Its my London of the time”.)  Entra na tabela britânica a 3 de Novembro, e fica por lá 21 semanas, tendo atingido o #1. Singles extraídos: Sorrow/Port of Amsterdam, em Novembro de 1973;
     Destaques: Here Comes the Night [de um original dos Them. Uma interpretação cheia de garra] ~ Everything's Alrigh [de um êxito de 1964, dos The Mojo. Na bateria está o baterista original do grupo, Aynsley Dunbar. Lá para o meio Bowie “faz” de Elvis Presley] ~ Where Have All the Good Times Gone [Dave Davies, o guitarrista dos The Kinks deve ter sentido inveja da guitarra de Mick Ronson. Em Novembro, a Pye Records aproveitando-se do sucesso do álbum viria a relançar um single com o original dos The Kinks]

1974, 11 de Abril
   Muda-se para os EUA aonde irá residir dois anos;

1974, 24 de Abril
   Posto à venda o álbum Diamond Dogs.  Inspirado no famoso livro de George Orwell, 1984, Bowie dá a sua visão de um mundo pós-apocalitico.  Tendo-se desligado dos Spiders From Mars passa a ocupar-se pessoalmente da guitarra líder, e embora tenha dado Ziggy Stardust como morto e enterrado, a verdade é que a sua imagem na capa é ainda a de uma metamorfose de Ziggy, híbrido de cão, cujos genitais em exposição explicíta serão alvo de auto-censura e farão com que venham a ser disfarçados em futuras edições.  Apontado pelo próprio Bowie como o seu trabalho mais político (“a very political album. My protest ... more me than anything I’ve done previously”) para muitos critícos musicais, este será um trabalho definitivo no nascimento do Punk Rock com a sua visão de um mundo urbano em caos e os seus residentes vivendo um nihiilismo consequente.  Consegue um #1 no RU e um #5 nos EUA.  Singles extraídos: Rebel, Rebel/Queen Bitch, em 15 de Fevereiro de 1974, Diamond Dogs/ Holy Holy, em 14 de Junho de 1974, e Rock ‘n’ Roll With Me/Panic in Detroit (Live), em 13 de Setembro de 1974;
     Destaques: Future Legend [Introdução declamada descrevendo um mundo pós-apocaliptíco (And ten thousand peoploids split into small tribes/Coveting the highest of the sterile skyscrapers/Like packs of dogs assaulting the glass fronts of love-me avenue) em que se vão situar os restantes temas do álbum] ~ Diamond Dogs [Bowie introduz o herói Halloween Jack (The Halloween Jack is a real cool cat/And he lives on top of Manhattan Chase) sob um fundo musical compacto e distorcido, em que os Stooges são a referência base mas em que se descobre a influência dos Rolling Stones.  O Glam Rock ficou para trás!] ~ Rebel Rebel [Composta no período de Ziggy, é um dos últimos exemplares, de facto, de Glam Rock.  Os dois versos iniciais dão o mote para este hino transsexual (You’ve got your mother in a whirl/She’s not sure if you’re a boy or a girl).  Jayne County, o famoso cantor e músico transsexual, reclama que parte da canção terá sido baseada na sua canção Queenage Baby.  Lançado como single atinge o #5 nas tabelas britânicas e #64 nas dos EUA.] ~ 1984 [A interpretação de 1984, de Orwell, por Bowie (They’ll split your pretty cranium, and fill it full of air/And tell that you’re eighty, but brother, you won’t care/You’ll be shooting up on anything, tomorrow’s neverthere/Beware the savage jaw of 1984) com uma banda sonora nitidamente baseada no Theme from Shaft, de Isaac Hayes – o personagem Thin White Duke começava a tentar sair do casulo.] ~ Big Brother [Mais um tema composto para o projecto abandonado sobre a obra de Orwell.  O início da canção é apontado como tendo por base Sketches of Spain, de Miles Davis.  Pode-se, por outro lado, descobrir uma série de pistas que virão a ser retomadas anos mais tarde. Em termos de letra, Bowie pega no final de 1984 em que o personagem principal, de cérebro lavado, aceita o Big Brother (Someone to claim us, someone to follow /Someone to shame us, some brave Apollo/Someone to fool us, someone like you/We want you Big Brother, Big Brother)];