Cartaz da Elektra na Sunset Strip
«O terceiro regresso dos Love [NA: no original, a frase tem uma outra subtileza: “The third coming of Love”], anunciado no cartaz da Elektra na Sunset Strip, no verão passado, está entre nós.»(1) – assim começava Jim Bickhart, numa das edições de 1968 da revista Rolling Stone, a sua crítica sobre Forever Change, o então último álbum dos Love, uma banda da cidade dos anjos que tinha em Arthur Lee, o seu líder carismático, e que, como escreveu David Fricke uns trinta e oito anos depois para a mesma revista, eram «(...) a primeira grande banda integrada dos anos sessenta, a primeira banda de rock a assinar com a Elektra e a primeira banda a colocar uma música num lado inteiro de um álbum de doze polegadas – “Revelation”, em Da Capo. Mas a aversão de Lee às promoções e às digressões garantiram que os Love se tornassem heróis em Los Angeles e um enigma em qualquer outro lugar.»(2), mas tudo isto começou no inicio de 1965...
«O Arthur tocava R&B e algures ao longo do caminho,
ele decidiu apanhar uma boleia até à Strip. Eu não a-
cho que ele tenha sido oportunista. Não acho que tenha
pensado “Oh, eu quero entrar nessa”. Sinceramente,
acho que ele gostou da música e da cena.”» – Bryan
MacLean(3 p.75)
A tal «boleia até à Strip», aparentemente, tê-lo-á levado até ao Ciro’s – um clube nocturno dos anos quarenta que ao longo da década de sessenta se foi adaptando às novas sonoridades que entretanto iam surgindo – aonde terá ouvido a banda residente, The Byrds, tocar o seu habitual «folk rock, uma mistura da influência rock da Invasão Britânica – com as suas guitarras harmoniosas e harmonias sem costuras – e a poesia socio-política tipificando as melhores letras de canções da música folk.»(4)
«Eu apercebi-me de que podia parecer com os Byrds e
os Beatles, e disse: “Hei, este és tu. Para de tentar ser
um imitador.” Fui a uma série de companhias de gra-
vação de proprietários negros – a SAR de Sam Cooke,
e a Motown – e não me quiseram. Eles queriam que
eu trabalhasse por um tostão ou metade dum tostão.»
– Arthur Lee(5 p.9)
Arthur Lee
O Arthur tinha já alguma experiência com outros grupos: com o guitarrista e vizinho Johnny Echols formara os LAG’s, um grupo de garagem que actuava em festas aonde reproduziam velhos clássicos de rhythm’n’blues que passaram a ser os The American Four quando surgiu a oportunidade de gravar um ou outro single que passariam completamente incógnitos. Depois de ouvirem os Byrds, Arthur e Echols decidem formar os Grass Roots com o baterista Don Conka e o baixista Johnny Fleckenstein, um ex-membro dos The Sons Of Adam que tinham gravado uma composição de Arthur. Menos de um mês depois conseguem um contrato para um clube de Melrose, o Brave New World. É por esta altura que Arthur se encontra com Bryan MacLean – um jovem vindo de um outro mundo que incluía o conhecimento de várias personalidades de Hollywood, o de ter sido o primeiro namorado de Liza Minnelli, e o de ser amigo de David Crosby, através de quem consegue a responsabilidade de ficar à frente de algumas digressões dos Byrds – e o convida para fazer parte do grupo.
«Ele convidou-me a aparecer para ouvi-lo no Brave
New World, e por algum motivo acabou por entrar no
meu carro. Ele precisava de ir a um lugar e eu disse
que o levava até lá. E foi assim que tudo começou.» –
Bryan MacLean(3 p.75)
«Nós começámos no Brave New World, em Melrose ,
e depois passámos para o Bido Lito; actuávamos seis
noites por semana a $20 ou $30 por noite. Quando
começámos no Brave New World, eles tinham 15 a 20
pessoas por lá, cada noite. Duas semanas depois, eles
ficavam de pé por todo o lado. Os Yardbirds, Mick
Jagger, Sal Mineo - nomeie-os, eles estiveram lá.» –
Arthur Lee(5 p.11)
Quando em finais de 1965, uma cover de um tema de Bob Dylan, Mr. Jones (Ballad Of A Thin Man), interpretado por um grupo criado pela dupla de compositores P.F. Sloan e Steve Barri com o nome de The Grass Roots, atinge uma certa popularidade, Arthur Lee e os restantes membros do grupo decidem passar a chamar-se de Love e pouco depois passam a banda residente de um outro clube de LA, o Bido Lito. É nele que Jac Holzman, um dos proprietários da Elektra, acaba por os encontrar.
Os Love no início da carreira
A Elektra era uma independente, formada em finais de 1950 por Jacques Holzman e Paul Rickhalt, cujo catálogo era essencialmente composto por música folk. Em meados da década de sessenta, demonstraram interesse em variar o mais possível a sua oferta (música erudita, jazz, blues, e por fim, o rock) e é assim que Jac aparece a contratar os Love.
«Eu estava fascinado. Era uma cena de um dos mais a-
migáveis anéis do inferno de Dante. Corpos esmagan-
do-se uns contra os outros (...), numa cadência parte
musical e todos sexuais. A banda atacava ‘Hey, Joe’ e
‘My Little Red Book’. Interiormente, sorri. ‘My Little
Red Book’ era de Burt Bachrach e Hal David, e entra-
va no filme “What’s New, Pussycat?” de Woody Allen.
Na moda mas honesta. E aqui estava Arthur Lee e os
Love fazendo-se a isso com intensidade maníaca. Cin-
co gajos de todas as cores, negros, brancos e psicadé-
licos – aquilo era único. O meu coração bateu mais
forte. Eu tinha encontrado a minha banda! Reunimo-
-nos com os Love depois da sua actuação, e compro-
meti-me a assinar com eles sem exigir uma demo de
estúdio. Concordámos em nos encontrarmos no dia
seguinte (...).» – Jac Holzman(6 p.128)
«(...) o Arthur disse, “Quero $5,000 adiantados para
assinar o contrato – em dinheiro.” O Jac respondeu,
“OK, encontramo-nos no banco.” O Jac passou o che-
que e o Arthur disse à banda, “Voltem para o hotel.
Tenho de ir buscar uma coisa.” E cerca de quatro ou
cinco horas depois ele apareceu com um Mercedes 300,
asas-de-pássaro, dourado pelo qual pagou $4,500.
“Bem,” disse, “nós precisamos de transporte para nos
deslocarmos aos concertos. (...) O Arthur comprou
também uma harmónica, deu cem paus a cada um dos
outros, e lá se foram os 5 mil.” – Herb Cohen(6 p.129)
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